Título: Avião da FAB espera 24hs para pousar
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2010, Internacional, p. A9

Americanos controlam aeroporto da capital e decidem quem deve aterrissar

A Força Aérea Brasileira (FAB) levou 24 horas para conseguir permissão para aterrissar um dos aviões que trazia para o Haiti remédios, 60 profissionais da área de saúde e equipamentos para abrir um hospital de campanha capaz de cuidar de 400 pessoas. O aeroporto de Porto Príncipe está sendo comandado pelos EUA desde que o terremoto arrasou o país.

Mas não foi apenas o Brasil que enfrentou dificuldades para pousar aviões com ajuda humanitária. A França protestou à embaixada americana sobre o impedimento de pouso de aeronaves do país. Ontem, um grupo de bombeiros do Peru também visitou a base militar brasileira para reclamar da falta de autorização para a chegada de um avião peruano com remédios e material hospitalar.

Os EUA fizeram um acordo com o governo haitiano para assumir o controle do aeroporto da capital, principal via de acesso da ajuda humanitária. Assim, indiretamente, os americanos passaram e decidir sobre quem pousa e decola na pista.

O general americano P.K. Keen, responsável pelas operações de seu país no Haiti, afirmou que a dificuldade para conseguir autorização para pousos e decolagens foi generalizada e "afetou até aviões americanos".

"Há um fluxo muito grande de países querendo ajudar os haitianos", disse o militar, buscando eliminar qualquer forma de atrito entre os países.

O secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, também tentou eliminar eventuais problemas e afirmou que houve "estresse por uma boa razão, devido à abundância de ajuda humanitária". "Qualquer problema pode ser resolvido diplomaticamente", disse.

DIVISÃO DE FUNÇÕES

Outro aspecto que inicialmente causou polêmica, mas que acabou sendo amenizado pelos países, foi o papel de brasileiros e americanos nas ruas da capital haitiana. O Brasil tem o comando das forças da ONU no Haiti, compostas por 17 países.

Ao jornal The New York Times, o general americano P.K. Keen afirmou ao que os EUA tentam "balancear a segurança com a urgência da ajuda humanitária". Mas o Brasil negou que esteja dividindo a segurança com os americanos.

"É preciso distinguir ajuda humanitária de presença militar", disse o comandante-geral da Minustah, general Floriano Peixoto. "Nosso poder é respaldado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU."

O general afirmou manter contato diário com Keen e destacou o trabalho conjunto para distribuir comida e água. "Os EUA e o Canadá possuem recursos para ajudar na reconstrução", afirmou.