Título: Amorim e Hillary decidem reforçar comando da ONU sobre operações
Autor: Thomé, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2010, Internacional, p. A10

Em reunião por telefone, chanceleres decidem que Brasil se ocupará da segurança e EUA, da ajuda humanitária

RIO Com o objetivo de discutir a situação do Haiti e de afinar a coordenação do auxílio humanitário, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, participou ontem de uma teleconferência organizada pelo Canadá com representantes de 10 países, além de integrantes da ONU e da Organização dos Estados Americanos (OEA). Entre os participantes, estavam o premiê do Haiti, Jean-Max Bellerive, e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.

Na reunião, decidiu-se que a coordenação das operações ficará a cargo da ONU e do governo haitiano. Ao Brasil, caberá a participação na segurança, enquanto os Estados Unidos cuidarão da ajuda humanitária.

"A distribuição de tarefas está sendo feita. Houve uma reunião importante há dois dias em que ficou estabelecido que a questão da segurança é tarefa da Minustah (força de paz da ONU), indiscutivelmente", disse o ministro.

Segundo Amorim, a percepção é de que houve progresso na distribuição de mantimentos no Haiti. Mas ele reconheceu que ainda há muito a ser feito.

Uma das maiores preocupações dos ministros que participaram da teleconferência está justamente na distribuição das ajudas internacionais, isso porque os portos permanecem pouco acessíveis. Além disso, os comboios que saem da República Dominicana estão ameaçados por saques.

Hoje o Conselho de Segurança da ONU realiza uma reunião para discutir o número máximo de tropas militares e policiais presentes no Haiti. O Brasil aguarda essa possível mudança para estudar o envio de mais tropas. Uma outra reunião, esta ministerial, será realizada na próxima segunda-feira, no Canadá, para começar a se pensar na reconstrução do país.

CRÍTICA VELADA

Até agora, o Brasil já se comprometeu a enviar uma ajuda de US$ 15milhões. Por enquanto, não está previsto um aumento da soma. "Pelos números que tenho lido nos jornais, até agora, os nossos números não fazem vergonha diante de muitos países desenvolvidos. Pelo contrário, são substanciais", comentou o ministro alfinetando implicitamente a escassa ajuda de alguns países europeus.

Amorim não excluiu a possibilidade de um aumento no montante. E completou a crítica: "Não é importante ser rico para ser solidário, mas sendo rico é mais fácil efetivar essa solidariedade."

O chanceler ainda voltou a comentar a questão do uso do aeroporto. Amorim afirmou que ocorreu "uma transição difícil da administração haitiana para a dos EUA", e, portanto, foi necessário reiterar que "em função da grande presença brasileira, tínhamos de ser tratados com uma certa prioridade". De acordo com o ministro, a superposição de funções está sendo resolvida.

No fim de sua fala a jornalistas, o ministro das Relações Exteriores fez um apelo para que as ajudas fossem feitas em dinheiro. E lembrou que na tragédia da tsunami, em 2004, muitos dos mantimentos doados tiveram de ser jogados no lixo porque não havia infraestrutura para entregá-los.