Título: Concertação tem o desafio de se renovar
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2010, Internacional, p. A13

Após 20 anos no poder, coalizão terá de apresentar propostas mais positivas

As primeiras eleições presidenciais realizadas sem o ditador Augusto Pinochet, que morreu em 2006, marcam o início de um novo ciclo na política chilena. Os líderes da Concertação, coalizão que governa o Chile desde o fim da ditadura (1973-1990), admitiram ontem que será necessário uma série de reformas em suas estruturas. O desafio é renovar a coalizão, já desgastada por duas décadas no poder, denúncias de corrupção e disputas internas.

"Temos de ser capazes de entender as mudanças profundas que ocorreram na sociedade chilena, além de abrir espaço para as novas gerações", disse o ex-presidente Ricardo Lagos, prometendo uma oposição responsável. "É preciso reconhecer, e procurar soluções para o fato de que há muitos políticos que compartem nossas ideias, mas deixaram a coalizão por acreditar que não tinham lugar aqui", completou Carolina Tohá, coordenadora da campanha do governista Eduardo Frei.

Criada para liderar a campanha pelo "não" à continuidade da ditadura no plebiscito de 1988, a Concertação é formada por quatro partidos com agendas diferentes: a Democracia Cristã (PD), o Partido Socialista (PS), o Partido pela Democracia (PPD) e o Partido Radical Social Democrata (PRSD). "Há muitas disputas, por exemplo, porque a DC é mais conservadora e tem travado projetos de outros grupos sobre a legalização do aborto ou o casamento de homossexuais", diz o professor da Universidade de Santiago Bernardo Navarrete.

"Agora fala-se até na possibilidade da divisão da Concertação", completa o cientista político chileno Guillermo Holzmánn. "Daqui para frente, a esquerda terá de apresentar propostas mais positivas, já que a agenda negativa antidireita mostrou estar desgastada."

O contraste é grande com a direita. Para ganhar votos, Sebastián Piñera renovou o discurso conservador, afastando-se dos setores pinochetistas e abraçando bandeiras típicas da esquerda, como os subsídios sociais. Outro dado dessa eleição foi o surgimento de um candidato independente, Marco Enríquez Ominami, que obteve 20% dos votos no primeiro turno.