Título: O risco Brasil no nível pré-crise
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2010, Economia, p. B2

O risco Brasil, que mede o grau de interesse dos investidores em papéis de um país, situou-se abaixo dos 200 pontos em dezembro e também abaixo de níveis alcançados no primeiro semestre de 2008, antes da crise global. No último biênio, atingiu o máximo em outubro de 2008 - 688 pontos (que corresponde a juros 6,88 pontos porcentuais ao ano acima dos títulos norte-americanos de mesmo prazo) -, apresentando, a seguir, forte tendência de baixa.

Outros países emergentes apresentaram queda ainda mais acentuada do risco: enquanto o risco Brasil caiu cerca de 200 pontos em relação a dezembro de 2008, o dos principais emergentes caiu quase 400 pontos, segundo levantamento da Consultoria Tendências. O que se destaca é que o risco Brasil já havia caído e, na crise, subiu abaixo da média. Hoje já é apenas 30 pontos superior ao do México, cuja classificação de risco é BBB+ (a do Brasil é BBB-).

Numa fase de grande cautela dos investidores, o Brasil teve bom acesso ao mercado global, tanto em emissões soberanas como de empresas públicas e privadas, como Petrobrás, que chegou a tomar recursos por 30 anos. Gerdau e Odebrecht lançaram papéis de 10 anos e 5 anos, respectivamente.

Em 2009, até novembro, segundo a Anbima, houve 35 operações, com captação de US$ 25,2 bilhões, montante que superou os patamares de 2006 e 2007 e foi quase quatro vezes maior que o de 2008.

Os tomadores, tudo indica, acreditam que o real continuará forte (ou seja, que não serão punidos por um dólar valorizado na hora de pagar os empréstimos). Ou, então, são exportadores, protegidos pela obtenção de receitas em dólar.

Com o forte ingresso de investimentos estrangeiros, tanto diretos como sob a forma de aplicações em Bolsa e em papéis de renda fixa, o País ficou distante dos problemas globais.

Mas a recuperação da economia provocará uma piora no saldo das transações correntes, projetado em US$ 22 bilhões em 2009 e em US$ 40,8 bilhões neste ano, conforme a Pesquisa Focus, do Banco Central, ou em até US$ 60 bilhões, segundo bancos privados. É inviável que as importações repitam em 2010 o comportamento de 2009, quando caíram 28,6%, até novembro, em relação a igual período de 2008. É muito provável um forte aumento das compras no exterior.

Melhor será a prudência de manter abertas as linhas de crédito de longo prazo, por menores que pareçam ser os riscos.