Título: Ocidente pressiona por sanção a Teerã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2010, Internacional, p. A16
China, que tem poder de veto, defende mais negociações
EUA, França e Rússia aumentaram ontem a pressão para que sejam aprovadas novas sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU. O único obstáculo é a China, que tem poder de veto e não demonstrou entusiasmo com a proposta de punir um importante parceiro comercial.
O chefe do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento russo, Konstantin Kosachyov, disse ontem que o acordo sobre um novo pacote de sanções estava "próximo". "Apesar de conversas sérias com o Irã, a ideia da aplicação de sanções de caráter econômico cresceu bastante entre a Rússia e outros países", disse Kosachyov, que se mostrou preocupado com o programa nuclear iraniano. "A situação está começando a nos alarmar."
O primeiro-ministro francês, François Fillon, disse que a França pedirá em breve ao Conselho de Segurança uma resolução que imponha "fortes sanções" contra o Irã. "O regime iraniano não recebeu nossas ofertas de diálogo. É preciso reagir", disse Fillon. "Buscaremos na ONU a adoção de uma nova resolução que determine duras sanções ao país. A União Europeia também vai assumir suas responsabilidades."
Os EUA adotaram um discurso diferente, mas com a mesma finalidade. O governo do presidente Barack Obama pediu a colaboração da China para pressionar o Irã. "Um Irã nuclear não é do interesse da China", afirmou Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca.
Nada disso, no entanto, parece ter sensibilizado Pequim. Em visita a Paris, o chanceler chinês, Yang Jiechi, disse que a imposição de novas sanções ao Irã pode complicar as relações diplomáticas entre os países envolvidos e, eventualmente, dificultar o consenso por uma solução. "Falar sobre sanções neste momento complica a situação e pode ser um obstáculo para uma solução diplomática", disse Yang. "A China apoia o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Todos os países têm o direito de usar energia nuclear de forma pacífica, até mesmo o Irã, desde que obedeçam as normas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)."
IMPACIÊNCIA
As declarações feitas, ao mesmo tempo, em Moscou, Washington e Paris mostram a impaciência da comunidade internacional com o Irã, que tem adotado uma política protelatória como forma de ganhar tempo para evitar sanções mais duras e avançar em seu programa nuclear, que Teerã assegura ter fins pacíficos.
O representante iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, disse ontem que as declarações do presidente Mahmoud Ahmadinejad de que Teerã aceitaria enriquecer urânio no exterior, mostram que o Irã tem a firme intenção de encontrar soluções por meio da cooperação e não do confronto. Mas EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha reagiram com ceticismo à afirmação de Ahmadinejad.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Gordon Duguid, afirmou que o Irã precisa, antes de mais nada, notificar formalmente a AIEA sobre sua decisão, opinião reiterada por Londres. Para o chanceler francês, Bernard Kouchner, o Irã está tentando ganhar tempo. "Estou um pouco pessimista", disse. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, afirmou que o regime iraniano deve ser julgado pelo que faz, não pelo que diz que fará.
A nova promessa de Ahmadinejad foi bem recebida pela China. "É um sinal de que devemos continuar negociando", afirmou, em nota, a chancelaria chinesa. Para que novas sanções sejam aprovadas no Conselho de Segurança é preciso ter o sinal verde da China, que importa 15% do petróleo que consome do Irã. No curto prazo, Pequim dificilmente conseguiria repor as importações.
Mas alguns analistas não creem que os chineses cheguem a usar seu poder de veto no Conselho de Segurança. "É mais provável que Pequim se abstenha", disse Mark Fitzpatrick, do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais, de Londres.