Título: Crise na Europa derruba mercados
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2010, Economia, p. B1

Temor sobre a situação de alguns países europeus provocou queda nas bolsas, que chegou a 4,73% na Bovespa

A fragilidade fiscal de alguns países europeus, que tem levantado dúvidas sobre a capacidade de honrarem suas dívidas, e as incertezas a respeito da recuperação da economia dos Estados Unidos provocaram mais uma forte turbulência nos mercados globais ontem.

No Brasil, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) perdeu 4,73%, maior queda desde outubro, e o dólar escalou 2,17%, fechando a R$ 1,883. No resto do mundo, o medo de os investidores aplicarem em ativos considerados arriscados, como ações e commodities, também fez estragos.

Em Nova York, o Índice Dow Jones desvalorizou 2,61%. Na Europa, o Índice Ibex-35, da Bolsa de Madri, desabou 5,94%, e o PSI-20, da Bolsa de Lisboa, 4,98%. O barril de petróleo para março caiu 5%, para US$ 73,14. "Houve movimento generalizado de fuga do risco para a qualidade (troca de ativos de riscos por outros mais conservadores)", disse Brad Samples, analista da Summit Energy.

Aos olhos do investidor, o melhor refúgio ainda é o dólar, apesar das dificuldades dos EUA. Por isso, a moeda ganhou terreno frente às outras. O euro, por exemplo, perdia pouco mais de 1% no início da noite de ontem, cotado a US$ 1,3737.

A mais recente onda da crise global começou a ganhar corpo na quarta-feira, quando o governo de Portugal suspendeu um leilão de títulos públicos porque os investidores pediram juros altos para comprar os papéis. É um movimento semelhante ao que ocorria há até poucos anos no Brasil, quando o mercado temia que o País desse um calote.

Portugal é uma das nações europeias com situação fiscal considerada frágil, ao lado de Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. O grupo tem sido chamado de PIIGS, em referência à palavra pig (porco, em inglês). Ontem, a onda atingiu com mais força o mercado espanhol.

O nervosismo levou o primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero, a tentar acalmar os investidores. Durante um almoço a portas fechadas em Nova York, ele afirmou que, "na Espanha, a dívida é razoável e a boa classificação do país como solvente será mantida".

O país que detonou os temores que crescem a cada dia foi a Grécia, onde a dívida pública já alcança mais de 110% do Produto Interno Bruto (PIB) - para se ter uma ideia, usando o mesmo parâmetro, a relação no Brasil está próxima de 65%.

No ano passado, o déficit fiscal do governo grego ficou em 12,7% do PIB, mais de quatro vezes superior ao teto de 3% estabelecido nas regras da zona do euro. Por isso, o governo anunciou pesado programa de ajuste fiscal, que ainda não ganhou a confiança de investidores.

Como explicou o estrategista-chefe do banco WestLB no Brasil, Roberto Padovani, só há uma saída para os europeus com problemas fiscais: um aperto fortíssimo das contas públicas, o que, em contrapartida, asfixiaria ainda mais o crescimento econômico, que já é lento.

"Como a região adota câmbio fixo, não há outra válvula de escape", disse. Em países com câmbio flutuante, uma desvalorização da moeda contribui para o ajuste porque melhora exportações e eleva o custo para investidores que querem deixar o país.

Como esse aperto é visto com ceticismo, cresce a avaliação de que alguns países terão de renegociar suas dívidas, o que afetaria toda a zona do euro. "Uma implosão do euro seria uma catástrofe macroeconômica", disse o economista-chefe da Pentágono Asset, Marcelo Ribeiro.

Seu colega Alexandre Lintz, economista do banco BNP Paribas no Brasil, não acredita nessa hipótese. Mas alerta que a volatilidade dos mercados vai continuar, o que afetará o País.

Para aumentar a tensão ontem, o número de trabalhadores americanos que entraram pela primeira vez com pedido de auxílio-desemprego subiu 8 mil, para 480 mil . A expectativa era de queda de 10 mil pedidos. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS