Título: O sinal de alarme do Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2010, Economia, p. B2

A leitura da ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 26 e 27 de janeiro justifica a preocupação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, quanto a uma possível elevação da taxa Selic na próxima reunião de 17 de março. Com efeito, o Copom deu a impressão de que, se o quadro atual não se modificar, a política monetária será apertada.

O Copom registra uma tendência generalizada de alta nos índices de preços que ameaça levar o IPCA a superar a meta de 4,5%. Diversos fatores estão influindo. Um primeiro fator que as autoridades monetárias registram é uma melhoria, embora lenta, no exterior, que poderá se traduzir por uma elevação dos preços dos fornecedores, uma alta do preço das commodities e uma taxa cambial menos favorável.

Essas previsões já se estão concretizando e, embora o Copom considere que há liquidez abundante no plano internacional, uma elevação das taxas de juros já ocorre, por causa da situação delicada de alguns países europeus.

O Copom teme uma intensificação das pressões da demanda doméstica, que poderia se traduzir por uma pressão sobre os preços suscetíveis de estendê-la aos itens não transacionáveis, isto é, os serviços.

Mas a demanda doméstica continuará crescendo no ritmo registrado em 2009? Seguramente, a massa salarial deverá crescer num ano de grandes investimentos, mas na ausência de estímulos fiscais a demanda pode diminuir. Caberia às autoridades frear a expansão creditícia para diminuir aquela pressão. Para esse fim, os bancos públicos poderiam ter um papel importante, mas até agora é o contrário que se verifica. As transferências governamentais terão um papel muito importante: o governo está dando sinais de que no 1º trimestre reduzirá seus gastos e que pretende respeitar a meta de um superávit primário de 3,3% do PIB (que será reduzido, na realidade, a 2,10%). Pelo menos o Copom deixa ao governo sua parte de responsabilidade.

Caberá também à indústria responder ao aumento da demanda com o crescimento da sua capacidade de produção, embora a importação possa reduzir a brecha entre produção e demanda.

Num curto parágrafo a ata não deixa dúvidas quanto à firme decisão do Copom de reagir à "deterioração do perfil de riscos". A questão é saber se, diante da pressão do governo, as autoridades monetárias aumentarão a Selic ou optarão por outras soluções.