Título: Não há mais onde atender os feridos
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2010, Internacional, p. A14

Nas ruas de Porto Príncipe, caminhões passam carregando corpos. As filas para comida, água e combustível prolongam-se por dezenas de metros. Não há água encanada, luz e saneamento básico. Nas calçadas, há marcas de sangue diante do hospital argentino e de outros centros de saúde. Mas não há mais onde atender feridos. Milhares de haitianos aglomeram-se em campos de futebol e terrenos vazios, com medo de ficar em prédios.

Por enquanto, segundo os militares, não há registro de violência. Diante das bases militares, há dezenas de haitianos tentando entrar. Cerca de 70 feridos graves estão sendo tratados em um hospital improvisado na brasileira (conhecida como General Bacelar). Mosquitos pousam nos rostos de crianças com curativos. Uma mulher chegou a dar à luz na base.

Nas ruas, pessoas tapam o nariz por causa do mau cheiro. Uma freira espanhola desesperada tentava descobrir onde estava uma irmã. Um canadense caminhou horas até chegar à base brasileira em busca de um amigo desaparecido. "Não o vejo desde o dia do terremoto e estou procurando em todas as bases da ONU."