Título: Drama é estímulo para ajudar
Autor: Zanchetta, Diego
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2010, Internacional, p. A17

Até agora, ainda é desconhecida a dimensão completa do desastre provocado pelo terremoto que sacudiu a capital do Haiti na terça-feira, mas já se sabe que há um número trágico de mortos e feridos.

As primeiras estimativas indicam que cerca de 3 milhões de pessoas, quase um terço da população do Haiti, precisarão de ajuda, fazendo com que esta seja uma das maiores emergências humanitárias da história das Américas.

Conversei com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na quarta-feira, e com outros altos representantes da organização para discutir as necessidades imediatas e de longo prazo. Antes de mais nada, é preciso resgatar os que continuam vivos e permanecem sob os escombros. É preciso retirar os cadáveres e restabelecer a energia, além de desbloquear e limpar as estradas.

Mas, acima de tudo, o Haiti precisa de dinheiro, água, comida, abrigos e medicamentos básicos para que se possa oferecer um alívio imediato aos que não têm teto nem comida e aos que estão feridos.

Toda a máquina da ONU trabalha incessantemente para atender a essas necessidades e para conseguir se reorganizar no campo no Haiti, depois do colapso do edifício de sua sede e da perda de tantos colegas. O governo dos Estados Unidos prometeu dar todo apoio aos esforços de recuperação, assim como fizeram os governos de muitas outras nações.

Organizações não governamentais e cidadãos comuns ofereceram-se para ajudar. Todas as contribuições, mesmo que pequenas, farão uma grande diferença diante de tamanha destruição.

Mas, depois que a emergência passar, ainda haverá o trabalho de recuperação e de reconstrução. Desde que a secretária de Estado americano, Hillary Clinton, e eu viajamos pela primeira vez ao Haiti, em dezembro de 1975, fui cativado pelo potencial, pelo sofrimento, pela persistência e a esperança das pessoas deste país, apesar dos abusos, da negligência e da pobreza. O governo e os cidadãos haitianos, a diáspora haitiana, países vizinhos e aliados, ONGs e organizações internacionais já tinham se comprometido a elaborar um plano para o desenvolvimento no longo prazo. Agora, estas iniciativas terão de ser adequadas em razão do desastre de terça-feira, mas não poderão ser abandonadas.

Quando presidente dos Estados Unidos, trabalhei para acabar com uma violenta ditadura militar no Haiti e para restaurar seu presidente eleito no cargo. Em junho, aceitei a missão de enviado especial da ONU ao Haiti a fim de promover o desenvolvimento do país no longo prazo, aumentando a assistência dos governos estrangeiros e os investimentos privados e coordenando e aumentando as contribuições de organizações não governamentais, procurando ampliar o envolvimento dos membros da diáspora haitiana.

Este trabalho contribui para a criação de novos empregos, para uma melhor educação, melhor assistência médica, menos desmatamento e mais energia limpa numa nação que necessita desesperadamente de tudo isso.

Tivemos um bom começo, e, antes do terremoto, cheguei a acreditar que o Haiti estava mais perto do que nunca de assegurar um futuro brilhante para seus cidadãos. Apesar desta tragédia, ainda acredito que o Haiti possa conseguir.

Em primeiro lugar, devemos cuidar dos feridos, enterrar os mortos e sustentar os que não têm casa, emprego e comida. À medida que limparmos os escombros, criaremos um futuro melhor com a construção de um país novo e melhor: com edifícios mais resistentes, melhores escolas e assistência médica; com mais indústrias e menos desmatamento; com mais agricultura sustentável e energia limpa.

A construção dos alicerces de um futuro melhor para os haitianos precisará da assistência dos governos, das empresas e dos cidadãos. O povo do Haiti merece nosso apoio. Os que quiserem ajudar, poderão fazer suas doações apoiando as iniciativas da ONU, de minha própria fundação ou por meio de mensagens de texto.

Nos próximos dias, todos nós ouviremos relatos de perdas, mas também conheceremos exemplos do triunfo do espírito humano. Todas essas histórias serão, para nós, um estímulo para ajudar - não apenas a recuperar o Haiti, mas a prestar nossa assistência para que o país venha a tornar-se a nação forte e segura que seu povo sempre desejou e mereceu.

Bill Clinton foi o 42.º presidente dos Estados Unidos e é o enviado especial da ONU no Haiti