Título: Quero voltar e ajudar meu país
Autor: Zanchetta, Diego
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2010, Internacional, p. A17

Clotaire foi tradutor para brasileiros

''DESESPERADO'' - Clotaire tenta, em vão, contato com seus pais

Intérprete para tropas brasileiras no Haiti entre 2005 e 2008 e morando em Juiz de Fora (MG) há quase um ano, Steven Clotaire, de 20 anos, não consegue dormir desde que o terremoto devastou seu país. De férias em Niterói, ele tenta sem parar, e sem sucesso, contato com os pais, que vivem em Porto Príncipe.

Clotaire já pediu a autoridades brasileiras para voltar ao seu país e poder auxiliar nos trabalhos de reconstrução. "Estou desesperado", disse o rapaz. "Já fiz contato com o pessoal do Exército brasileiro que está no Haiti e com meus amigos do Viva Rio. Quero voltar e ajudar, pois também é uma questão de patriotismo."

Clotaire disse que trabalhou voluntariamente, em ações sociais e em atendimentos médicos, com as tropas das Nações Unidas desde 2005. Aprendeu português e passou a trabalhar como intérprete para as tropas brasileiras. Chegou a participar da recepção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele visitou o país em 2007. Guarda, orgulhoso, em seu celular uma foto em que aparece com Lula.

Também tem fotos com militares brasileiros e na sala de aula, em Juiz de Fora, onde ensina o dialeto creolle para as tropas que serão enviadas ao Haiti.

Clotaire tenta contato com seu pai, Jacques, de 47 anos, sua mãe Gislene, de 46, e seus três irmãos. É com a ajuda deles que o rapaz se mantém no Brasil, onde está concluindo os estudos do ensino médio e pretende prestar vestibular. "Quero fazer Medicina. Pretendo estudar no Brasil. Mas antes tenho que voltar para o meu país e ajudar", disse Clotaire.