Título: Desespero também toma conta de haitianos em SP
Autor: Zanchetta, Diego
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2010, Internacional, p. A17

Radicados no Brasil e sem contato com o Haiti, eles tentam embarcar de volta e acampam no consulado em busca de informações sobre parentes

SOLIDARIEDADE - Haitianos buscam apoio mútuo e informações sobre seus parentes; grupo tenta organizar viagem para o país de origem

Desesperados com a falta de notícias de seus familiares, haitianos radicados em São Paulo dependem de amigos da República Dominicana, a 5 horas de carro de Porto Príncipe, para obter informações sobre pais, filhos e tios. Nos últimos dois dias, o consulado do país caribenho na Avenida Paulista virou um "acampamento" para médicos, professores, estudantes e profissionais de diversas áreas em busca de ajuda. Hoje, são 212 haitianos vivendo legalmente na capital paulista.

Durante a tarde de ontem, a veiculação de novas imagens na TV sobre a destruição do país, com pessoas feridas e mortos nas ruas, aumentou a aflição do cônsul-geral do Haiti, George Antoine, que vive em São Paulo há 35 anos. Ele sabia apenas que uma sobrinha e os três filhos dela seguiam desaparecidos. "Temos muitos amigos da Embaixada do Haiti na República Dominicana que estão indo para Porto Príncipe e, depois, voltarão para entrar em contato conosco. Talvez no domingo tenhamos informações mais precisas. Por enquanto, não conseguimos nenhum contato telefônico com o país. É uma angústia que aumenta a cada hora", lamentou o cônsul.

Os haitianos que permanecem no consulado querem de qualquer forma embarcar para o país em um voo militar da Força Aérea Brasileira (FAB). "Nossos irmãos, todos morreram e estamos assistindo a tudo pela TV. Isso é desesperador. Quero ajudar a salvar meu país", disse o professor de francês Jean Marie Fortirer, de 40 anos, há uma década no Brasil. "Até agora não sei se meus pais estão vivos. Não vou conseguir sossegar um instante até embarcar para Porto Príncipe."

Ao lado do professor, a estudante da USP Patrícia Baptisti, de 23 anos, tentava contato com amigos da República Dominicana, na tentativa de pedir auxílio nas informações sobre seus parentes. Ela está em São Paulo desde o fim de 2008. "Também não consegui falar com meus pais, com ninguém da minha família. Eu quero viajar assim que o aeroporto de meu país for aberto, custe o que custar", afirmou a estudante, que dividia a mesma vontade como o recepcionista de hotel Adley Deler, de 24 anos.

As perspectivas de que os haitianos no Brasil consigam viajar para a terra natal, porém, ainda são pequenas para as próximas duas semanas. "Eu vim aqui no consulado oferecer um grupo de 16 médicos para embarcar ao país, mas, por enquanto, não temos como voar até lá", contou o presidente do Instituto Americano de Saúde Pública, Roberto Marton. O cônsul em São Paulo prometeu tentar fretar um voo militar com parentes. "Por enquanto, o consulado é o nosso ponto de apoio para tentarmos informações."