Título: Obama e Bernanke precisam de um milagre para superar 2010
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2010, Economia, p. B1
Se 2009 foi um ano de intervenção maciça do governo na economia privada e de uma forte pressão para reformar o sistema de saúde, 2010 será dedicado a tirar o país dos aparelhos de respiração artificial e avaliar o que funcionou e o que não, e esperar que as coisas tenham dado mais certo do que errado.
Será o momento de testar a validade de certos princípios econômicos, como o de que o governo precisa gastar para economizar. O governo Obama, já desgastado por causa dos dados imprecisos e pela prepotência, viu-se obrigado a reavaliar sua medida de "postos de trabalho criados ou poupados" que resultariam do pacote de estímulo fiscal de US$ 787 bilhões.
Apesar de tudo o que diz sobre uma estratégia de saída, o Federal Reserve está aprendendo que sair é mais difícil que entrar. Politicamente, elevar as taxas de juro não é uma maneira de o banco central fazer amigos e influenciar pessoas no Capitólio. No caso de elevação de juros num momento em que o nível de desemprego está inaceitavelmente alto, o chairman do Fed, Ben Bernanke, será muito solicitado nas audiências do Congresso, numa atmosfera que vai lembrar um linchamento. Basta perguntar a Paul Volcker.
No campo prático, o Fed tem várias opções para evitar que o seu balancete inchado se traduza em excesso de dinheiro, crescimento do crédito e em inflação. Ele pode vender títulos. Pode esgotar as reservas temporariamente - o equivalente a tomar emprestado o dinheiro do sistema bancário -, revertendo os acordos de recompra ou um programa de vendas de depósitos a prazo para bancos. E pode elevar o juro sobre as reservas, atualmente em 0,25%, para induzir os bancos a guardar as reservas em excesso no Fed, em vez de elevar os empréstimos.
Quando os mercados privados estiverem a pleno vapor e a economia equilibrada, que taxa livre de riscos o banco adotará para desencorajar os bancos a fazer esses empréstimos? Será a mesma para todos? Como o Fed poderá saber, salvo por tentativa e erro? E se houver mais erros que tentativas?
ORÇAMENTO FEDERAL
Para o presidente Barack Obama, 2010 será o ano da responsabilidade fiscal - tão logo o sistema de saúde e uma nova lei para criação de empregos estiverem sancionados. Agora é o momento de encarar o déficit orçamentário, que atingiu o recorde de US$ 1,4 trilhão em 2009, ou 9,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior desde 1945.
A Secretaria da Administração e Orçamento da Casa Branca deve contabilizar um déficit de US$ 1,5 trilhão este ano, mesmo antes da reforma do sistema de saúde. A cobertura expandida será implantada gradativamente até 2014, enquanto os impostos para pagar por ela começam a ser cobrados já.
Barack Obama prometeu examinar o orçamento com lupa, exercício que vai revelar mais problemas que soluções. Isso porque não há muito que possa ser cortado.
Os gastos discricionários no campo não ligado à defesa representam apenas um sexto do orçamento federal, segundo Veronique de Rugy, pesquisadora sênior do Mercatus Center da Universidade George Mason, em Arlington, Virginia.
O Congresso vai querer aumentar a verba para segurança interna, que está fora do orçamento da defesa, após o fracassado atentado em um avião que chegava a Detroit.
Seria mais inteligente, e mais barato, terceirizar a segurança interna para os israelenses e a El Al.
O restante do orçamento está no piloto automático: os juros sobre a dívida pública e os fundos para programas como o Medicare e a Previdência Social. No ano passado, o Tesouro pagou US$ 383 bilhões de juros de uma dívida pública de US$ 7,55 trilhões. Tomar emprestado a taxas de juro próximas de zero manteve os custos baixos. Em 2008, os juros da dívida totalizaram US$451 bilhões.
E, quando a dívida pública cresce consistentemente mais rápido do que a economia, as coisas acabam mal.
As eleições de meio de mandato em 2010 serão um referendo sobre o governo. Somente 38% concordam com o plano de saúde dos democratas, com base na média de nove pesquisas da Realclearpolitics.com. Se os entrevistados tiverem alguma coisa em comum comigo, a desaprovação começou com a imposição do presidente, exigindo que o Congresso apresentasse um projeto de lei já no recesso de agosto.
A partir daí, o que constava do projeto importava menos que a urgência de reestruturar 16% da economia americana. Quiseram nos fazer acreditar que os planos do Senado e da Câmara expandiriam miraculosamente a assistência médica e reduziriam os gastos.
Será um ano de milagres se os desafios que se apresentam para o Fed e para o governo puderem ser superados assim tão facilmente.