Título: Brasília deve apoiar povo do Irã, não o regime
Autor: Chrispim, Denise ; Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2010, Internacional, p. A16

Mohsen Makhmalbaf, um dos mais importantes cineastas iranianos e porta-voz de Mirhossein Mousavi, que concorreu às eleições presidenciais de junho, não acredita no viés pacífico do programa nuclear. "Eles sabem que perderam apoio dos iranianos e querem se estabelecer como nação atômica para perpetuar o regime", disse ontem, em entrevista ao "Estado", por telefone. O programa nuclear é hoje uma das poucas bandeiras de união entre iranianos. Diante de potências nucleares declaradas, como EUA e Israel, eles se perguntam: Por que não o Irã?

Mas para Makhmalbaf o que está em jogo é um regime que tenta se manter "pela força e à custa de prisões, tortura e execuções". "Em 1979, éramos 30 milhões, hoje somos 70 milhões. E o que mais esses jovens, pós-Revolução Islâmica, com educação, tradição persa e petróleo, podem querer se não a liberdade de escolha?" Refugiado em Paris desde junho, ele diz que teme voltar a Teerã com a família. "Exercemos atividades políticas. Se voltarmos, seremos presos ou mortos."

Em encontro com o chanceler francês, Bernard Kouchner, esta semana, Makhmalbaf pediu que a França aumente a pressão sobre o Irã e interceda junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o Brasil corte relações com Teerã. "Os maiores parceiros do Irã são governos não democráticos como China, Rússia e Venezuela. É desse lado que o Brasil está?", diz Makhmalbaf, que já esteve no País para a Mostra Internacional de Cinema. "O Brasil deve apoiar o povo iraniano e não o ditador que os persegue."