Título: Educação ruim freia avanço
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2010, Economia, p. B3
A qualidade de educação pode frear os avanços sociais obtidos pelo Brasil na última década, para o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos. "Estou muito menos otimista em relação a esse processo do que a maior parte dos economistas que trabalham com pobreza e desigualdade no Brasil", diz.
Ele recorda que a forte desigualdade no Brasil está calcada nas diferenças de educação entre ricos e pobres, não somente em anos de estudo, mas também em termos de qualidade. Camargo nota que os cálculos que apontam a importância da desigualdade educacional na má distribuição de renda no Brasil não levam em consideração a qualidade, o que indica que o impacto das diferenças educacionais provavelmente é muito superior ao que já aparece nas pesquisas.
Ele acha que a diminuição das diferenças da qualidade da educação nos últimos anos foi muito pequeno, e que o Brasil permanece como um país em que, em média, as escolas públicas são muito piores que as privadas. Além disso, ele nota que as crianças pobres ingressam em idade bem mais avançada nas escolas públicas de pior qualidade, quando comparadas com as crianças de nível de renda mais alto que vão para a educação privada.
"Quando os pobres entram na escola, a probabilidade de recuperar o tempo perdido é muito pequena", analisa. José Márcio também se preocupa com a importância dos programas de transferência na redução da pobreza e da desigualdade nos últimos anos. "São iniciativas que taxam os mais produtivos para transferir para os menos produtivos; a desigualdade diminui, mas cai também o incentivo dos mais produtivos para trabalhar e gera riqueza", ele diz. Para o economista, ''são efeitos errados do incentivo, do ponto de vista dos ganhos de produtividade''.