Título: Produtor começa a pesquisar alternativas
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2010, Economia, p. B6

Entidade do setor se previne para a futura queda no consumo externo

Os produtores de tabaco brasileiros acompanham a conjuntura mundial, fazem suas contas, comparam as culturas e acreditam que vão continuar cultivando o produto por, pelo menos, mais algumas décadas. Afinal, apesar do intenso cerco ao cigarro, há indicativos de consumo crescente em algumas partes do mundo.

Uma pesquisa divulgada em outubro, na assembleia anual da Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA), indica que a demanda mundial subirá 5,6% até 2013, puxada, principalmente, pela África, Ásia e Oceania. "O que mantém o produtor na atividade é o fator econômico e ele tem se mantido favorável", afirma Benício Albano Werner, presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).

A pesquisa comparativa que a entidade faz anualmente mostrou que a rentabilidade da safra 2008/2009 por hectare foi de R$ 2.386 na lavoura de tabaco, enquanto que na lavoura de feijão foi de R$ 245 e a de milho deixou prejuízos de R$ 10.

"Além disso, como o cultivo é familiar, o produtor recebe R$ 4.815 como valor embutido pela mão de obra", ressalta. Na região Sul há mais de 180 mil famílias dedicadas à plantação do fumo, com cerca de cinco membros envolvidos com a produção.

"É indiscutível que o cultivo do tabaco, com área menor, faz com que o agricultor consiga mais renda do que com milho, feijão ou soja", explica Amauri Miotto, diretor-tesoureiro da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag/RS).

Para ele, "não há efeitos das restrições ao consumo na área da produção, porque a demanda internacional não caiu e porque a cultura oferece vantagens econômicas".

APREENSÃO

Mesmo que a cadeia do tabaco se mantenha robusta, os agricultores admitem alguma apreensão para o futuro.

"Existe preocupação com a diversificação para ninguém sofrer surpresas lá na frente", reconhece Miotto. "Enquanto o mercado externo estiver comprando, não há necessidade de mudar, mas não podemos aguardar de braços cruzados", avalia Werner.

Embora entenda que as alternativas ao tabaco não existam no momento, a Afubra trata de participar de iniciativas para criá-las para o futuro. Uma delas é um projeto em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e 33 prefeituras do Rio Grande do Sul para estudar a viabilidade do girassol como matéria-prima de combustível e componente de ração animal.

Cerca de 30 agricultores participam das experiências iniciais, que ainda não chegaram à fase de análise de resultados. "A intenção é de já termos testado a viabilidade de outras culturas caso tenhamos de diminuir a produção do tabaco e, assim, não ficarmos esperando a queda do consumo externo para depois correr atrás de alternativas", reitera Werner.

Dados da Afubra mostram que a cadeia produtiva do tabaco no Brasil envolve cerca de 2,4 milhões de pessoas. Nos EUA, que já foram os maiores produtores mundiais, a plantação foi reduzida à metade nos últimos 20 anos. E.O.