Título: Ahmadinejad desafia Ocidente e diz que Irã processará seu urânio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2010, Internacional, p. A8
Medida frustra meses de diálogo, abre caminho para sanções e aumenta risco de Teerã produzir bomba atômica
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ordenou ontem que a agência nuclear iraniana comece a produzir urânio altamente enriquecido para servir, supostamente, a fins medicinais. O anúncio irritou a comunidade internacional, pois contraria sinais emitidos pelo próprio Ahmadinejad. Na quinta-feira, o presidente iraniano disse que concordava com o envio de parte de seu material radioativo para ser enriquecido no exterior, uma exigência das potências ocidentais para afastar o risco de o país produzir armas nucleares.
"Eu havia dito: vamos dar (às grandes potências) dois ou três meses (para fechar um pacto sobre o intercâmbio de urânio) e, se não estão de acordo, começaremos nós mesmos" a enriquecer urânio, disse ontem o líder iraniano. "Também dissemos recentemente: façamos um intercâmbio (de urânio de baixo enriquecimento por combustível altamente enriquecido), mas as grandes potências começaram a jogar conosco, apesar de terem dito que queriam encontrar uma solução. Agora, Dr. Salehi, comece a produzir urânio (enriquecido) a 20% em nossas próprias centrífugas", ordenou o líder, dirigindo-se ao chefe do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi.
O anúncio repentino provocou fortes reações no Ocidente. Robert Gates, secretário de Defesa dos EUA, pediu em Roma que a comunidade internacional permaneça unida para pôr fim à "política ambígua" de Teerã e afirmou que "ainda há tempo para que as sanções sobre o Irã tenham o efeito desejado". O discurso de Gates confirma a intenção dos EUA de pedir ao Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas que adote novas sanções contra o regime iraniano, apesar das ressalvas feitas pela China e pela Rússia, ambas com poder de veto no CS.
O material radioativo iraniano é enriquecido entre 3% e 5%, taxa adequada para o uso civil. Ao ser processado novamente, este combustível pode chegar a 20% de enriquecimento - ideal para uso medicinal - ou até 90%, porcentual requerido para a fabricação de uma bomba nuclear.
SINAIS ERRÁTICOS
Em outubro, um grupo de seis países - EUA, China, Rússia, França, Alemanha e Grã-Bretanha - negociou com o Irã, com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), um acordo para transferir o processo de enriquecimento do urânio iraniano para o exterior. A AIEA esperava reduzir as chances de Teerã enriquecer secretamente seu urânio a 90%. Pelo acordo, o Irã só receberia o urânio enriquecido num prazo de 12 meses.
Desde o início, porém, o Irã tem enviado sinais erráticos à comunidade internacional, alternando promessas de cooperação com ameaças de seguir adiante com seu programa nuclear. Serviços de inteligência dos EUA e de países da Europa calculam que o Irã teria capacidade de produzir uma bomba nuclear dentro de menos de cinco anos.