Título: FAO lança plano de longo prazo para ajudar haitianos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2010, Internacional, p. A20
Estratégia é fortalecer agricultura e atrair sobreviventes para cidades de economia rural
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) anunciou ontem o primeiro pilar de sua estratégia para reconstruir o Haiti e tentar acabar com mais de duas décadas de dependência da ajuda internacional. O programa está orçado em US$ 700 milhões e dá prioridade a investimentos no setor rural, prevendo até mesmo o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ontem, a ONU também pediu o cancelamento da dívida haitiana para evitar um cenário de "miséria econômica".
O dinheiro pedido pela FAO - que terá de ser doado pela comunidade internacional - terá como objetivo a reconstrução de infraestrutura e o aumento substancial no volume de alimentos produzidos no país caribenho. A estratégia também tem como finalidade criar postos de trabalho nas cidades do interior para os milhares de haitianos que deixaram Porto Príncipe desde o dia 12.
A primeira fase do projeto está programada para durar 18 meses e, segundo a FAO, trata-se de um dos pilares da reconstrução do país. "A situação de alimentos no Haiti já era muito frágil antes mesmo do terremoto e o país era altamente dependente de importações", disse Alexander Jones, administrador de emergências da FAO.
Há três dias, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) por ter forçado o Haiti a reduzir suas tarifas de importação para alimentos. Um dos resultados foi uma invasão de produtos importados dos Estados Unidos a preços mais baixos, graças aos subsídios americanos. Outro resultado foi a destruição do setor agrícola do Haiti e o corte de investimentos. Hoje, 60% dos haitianos vivem no campo e 80% deles com menos de US$ 2 por dia.
Entre as medidas anunciadas pela FAO está a reconstrução de uma refinaria de açúcar destruída parcialmente na região, além de medidas que incluem reflorestamento, construção de canais de irrigação e pavimentação de mais de 600 quilômetros de estradas.
No curto prazo, as medidas serão concentradas na compra de sementes, materiais e fertilizantes para permitir que os agricultores possam começar a plantar já em março. O temor é que, com a destruição, a temporada seja perdida e a produção de alimentos no país - que já era debilitada - caia mais 60%.
A FAO ainda quer ajudar o governo a comprar milhares de toneladas de sementes para garantir a produção nos próximos dois anos, além de construir silos e armazéns. O projeto será financiado pela Embrapa e pelos governos do Canadá, Bélgica e Espanha.
Outra tese da FAO é que, com os recursos chegando ao interior do Haiti, as cidades da zona rural terão maior capacidade para lidar com a migração interna dos sobreviventes do terremoto. Pesquisas feitas pela organização mostram que 67% da população afetada diretamente pelo desastre está sendo alimentada pela comunidade internacional. Mas a ONU tem outra conta: 2 milhões de pessoas precisam de alimentos.
DÍVIDA
Ontem, a ONU também lançou um apelo para que a dívida de cerca de US$ 1 bilhão do Haiti seja cancelada.
Segundo as Nações Unidas, um estudo de 21 desastres naturais ocorridos num período que vai de 1980 a 2008 em países considerados pobres mostra que a dívida destes governos consome até 25% do seu próprio PIB.