Título: BC nega mudanças em sua atuação no câmbio
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2010, Economia, p. B3

Fonte do Banco Central questiona a visão do mercado de que a compra de dólares estaria pressionando a taxa de câmbio e elevando o risco de inflação

A política cambial executada pelo Banco Central (BC) continua exatamente a mesma e não é inflacionária, afirmou à Agência Estado uma fonte da autoridade monetária. A afirmação é uma resposta às suspeitas que começam a surgir no mercado de que o BC estaria mudando a estratégia de atuação no câmbio.

Do início do ano até 22 de janeiro, o BC comprou bem mais dólares (US$ 1,7 bilhão) do que o volume líquido de moeda estrangeira que ingressou na economia (US$ 10 milhões). As compras teriam influenciado a alta do dólar, adicionando risco à inflação de 2010.

"Não há nenhuma mudança de política. O câmbio flutua de acordo com a oferta e a demanda, e o BC busca adquirir o fluxo excedente", disse. A fonte destaca que esse objetivo tem de ser olhado dentro de uma estratégia de longo prazo. "Dependendo do momento em que se faz a fotografia, o BC pode estar acima do fluxo, como agora, em janeiro, ou pode estar atrasado. Mas, no horizonte de longo prazo, a política é adquirir o fluxo excedente", explicou.

Para o BC, a política de fazer com que as reservas internacionais continuem crescendo em conformidade com o fluxo cambial está adequada e não representa fator de pressão nos índices de preços, pois não muda a trajetória do dólar.

Para reforçar o argumento de que a política é a mesma, a fonte lembrou que, em 2009, entraram US$ 29 bilhões no País, e o BC comprou US$ 24,5 bilhões, ou seja, menos que o fluxo, o que está sendo parcialmente recuperado em janeiro.

Além disso, a fonte adiantou que, nesta semana, de 25 a 28 de janeiro, o fluxo cambial teve saldo positivo de US$ 1 bilhão, e o BC comprou apenas US$ 5 milhões, o que reduziu a discrepância entre o saldo adquirido e o fluxo efetivo no mês.

Segundo esse integrante do governo, o que determina a atuação do BC no curto prazo são as condições de mercado. Nesta semana, por exemplo, as taxas não estavam favoráveis e, por isso, o volume comprado foi baixo.

Para o economista e sócio da Tendências Consultoria, Nathan Blanche, há uma dissonância entre a defesa do câmbio flutuante e a prática da política cambial, que, na avaliação dele, estaria lembrando os períodos de câmbio administrado no País. Segundo Blanche, a conjuntura do mercado vem mudando desde o fim do ano passado, com forte reversão das posições de câmbio dos bancos - de vendidas para compradas -, tendência de fortalecimento do dólar em escala internacional e aceleração do déficit em conta corrente. Por isso, ele diz que não faz sentido o BC continuar comprando dólares no mercado, contribuindo para a elevação da taxa de câmbio.

"Essa política não tem sustentação macroeconômica, nem no curto nem no médio nem no longo prazo", afirmou. "Eu convivi com uma economia de câmbio administrado, que gerou uma inflação de dois dígitos por mês. A gente quer voltar na História? O Brasil é feliz e não está sabendo ser feliz." Ele disse que, se o BC saísse do mercado, não haveria uma valorização acentuada do real, por conta das conjunturas externa e interna. Para Blanche, o governo não precisa mais reforçar as reservas, que já estariam em nível suficiente para cumprir o papel de seguro contra crises.