Título: Unicef identifica 50 mil crianças sem companhia
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2010, Internacional, p. A13
Órgão da ONU diz que nem todas são órfãs e alerta para risco de tráfico; mortos chegam a 200 mil
Um levantamento inédito feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em hospitais e orfanatos nas principais cidades do Haiti revelou que quase 50 mil crianças estão desacompanhadas desde o terremoto do dia 12.
A divulgação da pesquisa coincide com o anúncio feito ontem pelo premiê haitiano, Jean Max Bellerive, de que o número de mortos no terremoto já passa de 200 mil, sem contar as vítimas que ainda estão sob os escombros e as que foram enterradas por seus próprios parentes.
Ambos os números dão a dimensão do desafio que a ONU e o governo haitiano terão de enfrentar.
Veronique Taveau, porta-voz da Unicef, explica que nem todas as 50 mil crianças desacompanhadas por ser consideradas órfãs. "Nesse cálculo que fizemos, sabemos que existem órfãos. Mas também incluímos o número de crianças que simplesmente estão desacompanhadas. Isso não quer dizer que elas não tenham mais família. Mas que, nesse momento, essas famílias estão desaparecidas ou a criança está perdida", explicou.
No sábado, um grupo de 10 pessoas ligadas à Igreja Batista dos EUA foi preso depois de ter tentado sair do Haiti levando 33 menores, supostamente com o objetivo de salvá-los. O grupo foi surpreendido quando tentava cruzar a fronteira da República Dominicana e ontem foi ouvido pela primeira vez pela Justiça haitiana, que decidirá se o caso será julgado nos EUA ou no Haiti. Segundo indícios, nem todas as crianças tinham perdido seus pais.
EXAME DE DNA
A Espanha anunciou que suas equipes no Haiti farão testes de DNA em crianças haitianas. Os resultados serão comparados com material genético colhido de adultos que sobreviveram ao terremoto e ainda procuram por seus filhos. Com a medida, os espanhóis esperam ajudar no combate ao tráfico internacional de menores.
As amostras genéticas serão colhidas entre 6 mil crianças haitianas, por meio da saliva e amostras de sangue.
Jean Claude Pierre, encarregado de negócios do Haiti na ONU, disse que apenas as crianças que tenham tido seu processo de adoção finalizado antes do terremoto é que poderão deixar o país. "O restante deve, por enquanto ficar. Pelo menos até que se conheça o destino real de suas famílias", disse.
John Holmes, número 2 da ONU, admite que a questão das adoções transformou-se numa "importante preocupação". "A rede de traficantes já existia antes mesmo do terremoto. Agora, esses grupos veem o desastre como uma oportunidade", disse.
Segundo ele, a questão dos menores é a prova de que os problemas sociais e de saúde no Haiti não terminarão quando as feridas do desastre estiverem cicatrizadas. "Os problemas psicossociais terão de ser enfrentados", alertou. A Unicef insiste que a adoção de menores deve ser encarada apenas como o último recurso.