Título: Um em cada 5 cursos que usam o Enem na seleção oferece até 10 vagas
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2010, Vida&, p. A15

Com isso, concorrência chegou a 451 candidatos; ontem, o MEC decidiu liberar a consulta para nota de corte

ABSTENÇÃO RECORDE - Alunos prestam exame; em 2009, 37,7% dos candidatos inscritos faltaram à prova

Um em cada cinco cursos das 51 instituições federais que aderiram ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de ingresso disponibilizou no máximo dez vagas. Há casos de cursos que estão oferecendo apenas uma ou duas vagas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), gerando, por exemplo, concorrência acima de 110 candidatos, chegando a 451.

Foi possível fazer esse cálculo ontem, depois que o Ministério da Educação liberou a consulta das notas de corte, relação candidato/vaga, notas mais altas e total de inscritos. As inscrições da primeira etapa terminam hoje. Como a adesão ao Sisu foi voluntária, algumas instituições decidiram usar esse primeiro ano como um teste.

Levantamento feito pelo Estado mostra que, de 1.292 cursos, 273 deles oferecem dez ou menos vagas. Desses, 153 disponibilizaram até cinco vagas e outros 120, entre seis e dez.

Todas essas vagas estão na chamada "ampla concorrência", em que não entram aquelas reservadas aos sistemas de cotas - raciais ou sociais. Do total de vagas que as 51 instituições participantes oferecem a cada vestibular, 50,3% estão no Sisu, mas essa média esconde aquelas que decidiram restringir significativamente o acesso pelo sistema.

EXEMPLOS

O caso mais emblemático é da Universidade Federal de São João Del Rei (MG), que decidiu colocar apenas 31 das suas 785 vagas - o que significa menos de 4%. Oito cursos têm apenas uma vaga no sistema, entre eles Medicina e Arquitetura e Urbanismo. Inicialmente, a instituição imaginava usar o Sisu para algo entre 10% e 25% das vagas.

A restrição fez com que a UFSJ tenha algumas das notas de corte mais altas de todo o concurso e as maiores concorrências. Em Medicina, são 435 estudantes para apenas uma vaga. Em Psicologia, 123, e 122 em Arquitetura e Urbanismo.

A única vaga de Medicina da UFSJ tinha, até ontem, não só a maior concorrência do País, mas também a nota de corte mais alta: 825,17.

A Universidade Federal de Rondônia, que também aparece com alguns dos cursos mais concorridos, restringiu o acesso pelo Sisu para 10% das vagas deste ano. Na Federal do Tocantins são 25% e na do Piauí, 50%.

Já a Universidade Federal de Pelotas, que aparece na lista, usou o Enem e o Sisu em 100% das suas vagas. No entanto, oito dos seus cursos, várias habilitações de música, têm apenas entre 7 e 10 vagas no total.

A segunda nota mais alta até ontem estava com Direito da Federal Rural do Rio de Janeiro, 818,27. Entre as dez primeiras notas, sete estão em Medicina, duas em Direito e uma em Engenharia Química. Na outra ponta, 20 cursos têm notas de corte inferiores aos 500 pontos da média do Enem. A mais baixa delas é de um que exige talentos bastante específicos: Regência de Corais, da Federal de Pelotas - tem nota de corte de 355,84 e apenas 11 candidatos para 30 vagas. No entanto, o curso com menor concorrência no Sisu até ontem era a licenciatura noturna em Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, com apenas 0,7 candidato por vaga.

TIRA-DÚVIDAS

Se o aluno for aprovado na 1.ª etapa de seleção, mas não comparecer à matrícula, ele pode concorrer à mesma vaga na 2.ª? Sim, mas essa possibilidade estará condicionada à existência da vaga. A segunda etapa será feita com vagas restantes

Se o aluno passar na 1.ª etapa e fizer matrícula, ele pode continuar tentando outra vaga, em curso e instituição diferente? Sim, mas ele perderá a primeira vaga, mesmo tendo feito a matrícula. O sistema só aceita uma matrícula em uma federal

Se o aluno não conseguir se inscrever por falhas no Sisu, cabe recurso? O MEC afirma que o sistema voltou ao normal e que não há motivo para o aluno não conseguir

TROPEÇOS

Abril O ministro da Educação,Fernando Haddad, anuncia a intenção de tornar o Enem uma prova nacional de seleção para todas as universidades federais

Maio Após reunião com o conselho de secretários da educação, surge a ideia de tornar o Enem obrigatório para todos os concluintes do ensino médio, mas a proposta perdeu força

Julho O grande número de acessos e problemas no site fizeram com que o prazo de inscrição do Enem fosse prorrogado. O total de 4,5 milhões de inscritos fica abaixo da expectativa

Agosto A Justiça determina a reabertura das inscrições, motivada por ação do Ministério Público que contesta obrigatoriedade do CPF no cadastro

Setembro Candidatos reclamam da distância dos locais de prova. Alguns foram colocados a 50 quilômetros de sua casa. O Inep admite o problema

Outubro O Estado denuncia o vazamento do Enem, que foi furtado da gráfica onde os cadernos de questões foram impressos. O MEC cancela a prova

Outubro/novembro Várias instituições que usariam o Enem para compor a nota do vestibular desistem de usá-la por causa dos prazos apertados

Dezembro A abstenção do Enem é recorde, com 37,7% de faltas. Após a prova, o Inep divulga gabarito errado. Dias depois, o presidente do órgão se demite