Título: País estreia no conselho da ONU focado em evitar sanções ao Irã
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2010, Nacional, p. A6

Amorim defende a tese de que diálogo e persuasão são preferíveis ao emprego da força e às punições

BRASÍLIA De posse de uma cadeira não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas desde 1º de janeiro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará um custoso desafio nos próximos meses: evitar que o organismo baixe sanções contra o Irã, como punição por sua insistência em enriquecer urânio em níveis considerados perigosos. Na terça-feira, em Ancara, o chanceler Celso Amorim reiterou a uma plateia de 200 embaixadores da Turquia a visão brasileira de que o isolamento de Teerã precisa ser evitado e a via da negociação não deve ser suspensa.

Amanhã, o Brasil fará sua estreia efetiva no Conselho de Segurança, durante reunião para a avaliação das operações das Nações Unidas na Costa do Marfim. O governo brasileiro terá assento nesse órgão máximo de decisão mundial até 31 de dezembro de 2011. Essa estreia, porém, se dá em um momento delicado.

Os Estados Unidos se empenham para obter o apoio dos membros do Conselho de Segurança à imposição de sanções sobre interesses da Guarda Revolucionária, instituição militar que sustenta o regime dos aiatolás, que comanda os projetos nucleares secretos e teria vinculações com organizações terroristas. A Rússia e a China, antes menos propensas a aprovar sanções contra o Irã, deram mostra de que podem reverter suas posições.

No fim de novembro, ambos os países votaram em favor da condenação de Teerã pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), por causa da descoberta de uma usina clandestina em Qom. Se o Brasil pôde se abster nessa votação, sob a desculpa de que acabara de receber Mahmoud Ahmadinejad, agora se verá em meio a um pesado jogo político, no qual toda posição traz um custo, como reconhecem diplomatas experientes no tema.

Convidado para o encontro de Ancara pelo chanceler turco, Ahmet Davutuglu, Amorim defendeu anteontem a tese de que o diálogo e a persuasão são sempre preferíveis ao emprego da força e às sanções, ao referir-se à questão do Irã. Em um café da manhã, Amorim e Davutuglu se comprometeram a aproximar posições sobre os principais temas da agenda internacional. Assim como o Brasil, a Turquia também dispõe de uma cadeira não-permanente no conselho neste ano.

A defesa do direito de o Irã enriquecer urânio foi reiterada publicamente por Lula durante a visita a Brasília de Ahmadinejad, em novembro passado. Essa posição expõe a preocupação brasileira de que, eventualmente, seu programa nuclear possa sofrer restrições da comunidade internacional, apesar das garantias constitucionais de sua finalidade pacífica - algo inexistente, no caso do Irã.