Título: Usar reserva para pagar despesas é caminho arriscado
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2010, Internacional, p. A9

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, disse ontem que, ao contrário do que defende o até agora presidente do Banco Central da Argentina, Martín Redrado, é melhor pagar dívida pública com reservas externas do que tomar mais dinheiro emprestado a juros altos.

O problema é que as reservas da Argentina foram compradas com emissão de moeda. E as dívidas correspondem à tomada de empréstimos por meio da venda de títulos do tesouro argentino para cobrir despesas correntes do governo (pagamento de salários e a manutenção da máquina). Usar reservas para resgatar dívida pública é o mesmo que pagar gastos de governo não com arrecadação de impostos, mas com emissão de moeda. Se a receita de Cristina fosse levada às últimas consequências, os governantes estariam autorizados a gastar à vontade, pagariam as despesas com aumento da dívida e depois pagariam a dívida com reservas. É injeção de inflação na veia.

Essa questão remete a outra: a da autonomia de um banco central. Político adora gastar. Deixar a impressora de moeda nas mãos dos políticos é contratar o lobo para tomar conta do rebanho. A melhor maneira encontrada até hoje para evitar o problema é dar autonomia ao banco central. Isso não significa que o banco central não tenha de dar satisfação à sociedade. Significa apenas que o fole que aumenta ou diminui o volume de dinheiro na economia deve ficar longe do alcance dos políticos.