Título: Crise deixa entidade com três presidentes simultâneos
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2010, Internacional, p. A9

Demitido, Redrado recorre à Justiça; Pesce assume, mas Cristina insiste em ter Blejer à frente do BC

A Argentina tem, desde a noite de quinta-feira, três presidentes do Banco Central. Martín Redrado, presidente do BC desde 2004, foi removido por decreto da presidente argentina, Cristina Kirchner, e deixou o edifício da entidade financeira para não ser removido pela polícia à força. Mas voltou à sede do BC no fim da tarde, amparado por um recurso judicial. "Não renunciei nem renunciarei", declarou ontem ao chegar em sua casa no bairro de Belgrano, em Buenos Aires.

Ontem, por várias, o BC tinha um presidente interino, Miguel Ángel Pesce - homem de confiança da presidente Cristina -, que até a quinta-feira era vice de Redrado.

Mas, além dos dois, há ainda um terceiro presidente do BC, o economista Mario Blejer, que comandou a instituição em 2002 é ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-diretor do Banco da Inglaterra. O governo Kirchner anunciou que ele será o novo e definitivo presidente do BC. Mas Blejer, que está de férias na Europa, não confirma nem nega que ocupará o posto.

Alheio a toda a indefinição política, o site na internet da entidade financeira informava até a tarde de ontem que Redrado ainda era o presidente do BC argentino.

Redrado, que conseguiu permanecer no cargo durante seis anos - o segundo período mais longo na história da instituição - sobreviveu à queda de seis ministros da Economia, mas não passou incólume pela gestão centralizadora da presidente Cristina. Ela decidiu destituir Redrado depois de perceber que o presidente do BC não liberaria as reservas que o governo pretende usar para o pagamento da dívida pública.

RECURSOS

Redrado havia solicitado ontem à Justiça a anulação do decreto que o removeu da presidência do BC, argumentando que a decisão violava a autonomia da entidade financeira.

"Não provoquei esta situação", disse Redrado, que foi respaldado no recurso pelo constitucionalista argentino Gregorio Badeni.

Poucas horas antes da chegada de Pesce, o novo presidente, ao edifício da entidade, o Departamento Jurídico do BC indicou que a Carta Orgânica é "clara e categórica" quando determina que o BC "não deve seguir ordens, indicações ou instruções" do Poder Executivo.

O empresariado ficou do lado de Redrado. Preocupada com o impacto da crise na economia, a Associação Empresarial Argentina (AEA) afirmou que é preciso "fortalecer as instituições".

Enquete do jornal Clarín indica que 85% dos internautas não concordam com a forma como Redrado foi removido do cargo.