Título: PT vai usar enchentes contra Serra
Autor: Scinocca, Ana Paula ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2010, Nacional, p. A8

Ideia é apresentar projeto de combate às cheias no lançamento do PAC 2 e provocar tucano a debater tema

A campanha presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, vai aproveitar os estragos provocados pelas chuvas em São Paulo para tentar desconstruir a imagem de bom administrador do governador José Serra, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. No governo e na cúpula do PT, a convicção é de que o grande embate entre Dilma e Serra será em torno da capacidade de dirigir o País. A ideia dos petistas é usar o lançamento da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em março, para apresentar o projeto de combate às enchentes e, a partir daí, chamar Serra para a briga nessa seara.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que o PSDB fará de tudo para colar em Dilma o carimbo de candidata sem experiência administrativa e, em seu governo, a pecha de patrocinador da "gastança" e do inchaço da máquina pública. A contraofensiva, porém, já está em curso: na Esplanada, a área econômica começou a levantar números e a produzir estudos para provar que a maior despesa dos dois mandatos de Lula tem sido com o pagamento de benefícios sociais, como os destinados ao Bolsa-Família, às aposentadorias e ao seguro-desemprego.

É na outra frente de batalha - o debate sobre a capacidade de administrar - que o PAC entrará em cena. Embora apenas um terço da verba destinada ao primeiro programa tenha sido executada, o governo lançará o PAC 2 com a promessa de contribuir para a solução das enchentes. Detalhe: a vigência do PAC 2 é de 2011 a 2015.

"São Paulo está alagado há dois meses", afirmou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), ao anotar 26 cidades paulistas em estado de emergência. "É preciso uma revolução nas condições de infraestrutura", emendou, numa referência a investimentos em portos, aeroportos e hidrovias.

Dados do Ministério das Cidades indicam que desde a criação do PAC, em 2007, um montante de R$ 1,7 bilhão foi destinado a obras de drenagem urbana no Estado de São Paulo. Os recursos incluem as contrapartidas das prefeituras, mas não são liberados de uma única vez - e, sim, proporcionalmente ao andamento das obras.

Escalados pelo comando da campanha de Dilma, militantes do PT já começaram a vasculhar a gestão de Serra não só no governo de São Paulo como na prefeitura paulistana (2005 a 2006) e à frente dos Ministérios do Planejamento (1995 a 1996) e da Saúde (1998 a 2002).

"Precisamos potencializar o que o governo Lula fez e o que Serra não fez", disse o presidente do PT paulista, Edinho Silva. Para o senador Sérgio Guerra (PE), que comanda o PSDB, o PAC é uma ficção. "Trata-se de um slogan, de uma peça publicitária", insistiu o tucano, chamado por Lula de "babaca" na reunião ministerial do dia 21.

Lula pediu à equipe, naquele dia, que ajudasse a divulgar as obras de sua administração nos Estados. Cobrou principalmente os ministros que deixarão os cargos até 3 de abril para disputar as eleições. "Falem do que estamos fazendo. Os governadores nunca dizem que as obras são do governo federal", reclamou.

JUVENTUDE

Com o diagnóstico de que as políticas de transferência de renda beneficiaram até agora mais adultos e idosos, a plataforma de Dilma também terá propostas específicas para a juventude.

"Há uma preocupação no governo em relação a políticas sociais para os jovens", contou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. "Estamos pensando em ações que fortaleçam o papel da família e vamos mostrar que o Minha Casa, Minha Vida não é só um plano habitacional. Isso movimenta a economia como um todo. As pessoas, quando vão para a casa nova, querem geladeira nova, fogão novo e outro sofá."

Na prática, o governo está à procura de um plano inédito para adicionar às diretrizes da plataforma de Dilma. Quer apresentá-la como uma candidata de ideias novas, e não apenas como mera continuidade de Lula. Mais: por trás do discurso em defesa da juventude está embutida a intenção do PT de abocanhar votos de eleitores com idade entre 16 e 18 anos, que escolherão pela primeira vez um presidente da República.