Título: Ciro é aposta de Lula para São Paulo
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2010, Nacional, p. A11

Presidente não desistiu de convencer deputado e vê nele o único com chances de dar palanque forte para Dilma

Com a candidatura de Ciro Gomes (PSB-CE) à presidência da República praticamente descartada, o presidente Luiz Inácio da Silva não desistiu de convencer seu ex-ministro a disputar o governo de São Paulo. Lula pretende se reunir esta semana com Ciro para fazer uma última tentativa de ver o deputado do PSB candidato ao governo paulista.

Mesmo diante de resistências localizadas do PT, o presidente está convicto de que Ciro é o único com chances reais de dar um palanque forte para Dilma Rousseff, pré-candidata petista à sua sucessão, no Estado."São Paulo é quase um palanque nacional. A eleição em São Paulo é definida pela disputa nacional", diz o deputado José Genoino (PT-SP).

Para ganhar tempo, Lula combinou com o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a contratação de pesquisa eleitoral para analisar a performance dos candidatos à Presidência da República e avaliar o potencial da candidatura de Ciro. A pesquisa deverá ser feita pelo Ibope e realizada depois do Carnaval. A decisão sobre o futuro político do deputado será tomada até março.

"A ideia é ver qual dos candidatos se beneficia mais com a retirada da candidatura de Ciro Gomes", resume o líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF). "A maioria dos votos do Ciro são do Serra e não da Dilma", antecipa o deputado Marcio França (PSB-SP).

A previsão do socialista é baseada em pesquisa eleitoral contratada há cerca seis meses pelo PSB, segundo a qual os votos de Ciro Gomes migrariam para José Serra, governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência. A candidatura de Dilma seria pouco beneficiada com a eventual desistência de Ciro na disputa à sucessão presidencial.

"O PSB entende que duas candidaturas da base, a de Ciro e a de Dilma, é mais eficiente do que uma eleição plebiscitária. Mas vamos analisar a pesquisa para só então definir o que fazer", diz o líder Rollemberg. "O melhor é uma eleição plebiscitária. E para a estratégia nacional, o melhor é o Ciro não ser candidato", acrescenta Genoino.

Sem o aval de Lula, é improvável que Ciro dispute a sucessão presidencial. O PSB sozinho não tem tempo de televisão, uma vez que não contará com o apoio de partidos aliados, como o PC do B e o PDT, já fechados com a candidatura da petista Dilma Rousseff.

Na avaliação do Palácio do Planalto, Ciro é o único capaz de suplantar o favoritismo de Geraldo Alckmin, candidato do PSDB ao governo paulista. Ao mesmo tempo, o deputado poderá funcionar como linha auxiliar na campanha de Dilma ao ser escalado para "bater" em Serra. Outra hipótese aventada por correligionários do ex-ministro é que Lula pode deixar Ciro de "stand by" se a aliança com o PMDB naufragar. Ciro seria uma opção como vice-presidente na chapa encabeçada por Dilma.

Na disputa pelo governo de São Paulo, parte dos petistas aponta que a chapa ideal para confrontar com os tucanos é encabeçada por Ciro, com Aloizio Mercadante (PT) e Gabriel Chalita (PSB) candidatos ao Senado.

Está prevista para amanhã uma reunião entre o PC do B, PDT, PSB, PR e PT - partidos dispostos a lançar candidato único à sucessão paulista. Um dos cotados, Mercadante já avisou: "O caminho que construí é concorrer ao Senado."