Título: Lula avisa que vai viajar com Dilma enquanto lei permitir
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2010, Nacional, p. A4

Ela afirma que presidente "mudou história" e volta a confrontar FHC

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou ontem que não está preocupado com as denúncias de campanha antecipada apresentadas pelos adversários à Justiça Eleitoral, avisou que visitará obras até o último dia do mandato e atribuiu a reação da oposição à falta de discurso. Ele chamou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de "salvação da lavoura" - por ter gerado emprego durante a crise mundial - e disse que levará a pré-candidata do PT à Presidência, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), às inaugurações enquanto a legislação permitir.

"Quando um partido de oposição não tem o que propor, não tem discurso, fica difícil a situação e eles tentam impedir que o outro time jogue", afirmou Lula, a duas rádios de Governador Valadares (MG). "Vou fazer visitas até 31 de dezembro à meia-noite. Vou fazer muita força para eleger minha sucessora. Depois vou começar a desligar meus neurônios, vou para casa, não vou dar palpite no governo." E reforçou: "A companheira Dilma vai continuar viajando comigo até a lei permitir."

Na inauguração de um pólo de ensino à distância na cidade mineira, localizada na região do Vale do Rio Doce, o presidente entrou na polêmica sobre o papel do Estado na economia - levantada pela versão prévia do programa de governo da candidata petista. "Aqui no Brasil, pelo amor de Deus, aceitamos sugestão, mas não aceitamos intromissão demasiada", frisou. "Mercado é bom para quem está no restaurante, comendo comida boa. Quando está na sarjeta, não existe mercado, existe a figura do Estado", completou.

Foi um dia de agenda intensa em Governador Valadares. Depois de visitar obras do PAC e entregar casas a moradores removidos de áreas de risco, Lula, em uma única solenidade, inaugurou o pólo de ensino, assinou contratos do projeto Minha Casa, Minha Vida e incluiu 2.367 famílias no Bolsa-Família. Tudo isso em menos de cinco horas.

COMPARAÇÕES

Dilma insistiu em confrontar a gestão atual com a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Se quiserem, vamos comparar número por número, obra por obra, casa por casa, escola por escola, emprego por emprego", disse, em discurso, rebatendo artigo de FHC publicado domingo pelo Estado.

Antes dos compromissos oficiais, o próprio presidente já havia comparado, na entrevista às duas rádios locais, o crédito para habitação oferecido pela Caixa Econômica Federal em 2002, final do governo FHC, e em 2009. "O atraso é tão grande que precisamos fazer muito mais para recuperar."

Dilma ainda rasgou elogios a Lula. "Temos orgulho do nosso governo, do nosso líder. O Brasil cresce com o povo, a favor do povo e não contra o povo, como no passado. O presidente mudou a história, construiu um caminho a favor de todos."

Saudada pela plateia aos gritos de "Brasil pra frente, Dilma presidente", a ministra frustrou parte da expectativa dos moradores de Governador Valadares ao chamar a cidade de Juiz de Fora, por duas vezes. Também chamou de Palmares o bairro de Palmeiras.

"RETROCESSO"

Saindo de Governador Valadares, Lula e a ministra seguiram para a inauguração do câmpus avançado da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Teófilo Otoni (MG). O público, novamente, recebeu Dilma em coro.

Lula não perdeu a deixa. "Eu não posso falar o que vocês estão falando porque a lei não permite", disse, em discurso. "Mas podem ficar certos de uma coisa: nós vamos fazer a sucessão deste país para dar continuidade ao que nós estamos fazendo. Porque este país não pode retroceder, este país não pode voltar para trás como se fosse um caranguejo."

Ele salientou, ainda, que seu governo beneficiou os desfavorecidos. "O pobre aprendeu a ter autoestima. O pobre aprendeu a levantar a cabeça. Aprendeu que é bom conquistar as coisas e nós não vamos parar mais."

A ministra não discursou durante o evento e passou a maior parte do tempo fora do palanque. Por causa do atraso da comitiva, Dilma e o ministro das Cidades, Márcio Fortes, foram designados para conduzir uma reunião com prefeitos da Associação da Microrregião dos Municípios do Vale do Mucuri.