Título: Ciro dribla ultimato do PT em São Paulo
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2010, Nacional, p. A8

Deputado adia reunião para discutir troca da corrida ao Planalto por sucessão paulista e partido já busca opção

Decidido a adiar até março a definição de seu destino político, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) empurrou para o dia 24 deste mês o encontro que teria com um grupo de dirigentes de partidos da base aliada em São Paulo, liderados pelo PT. Na reunião, agendada inicialmente para amanhã, o comando petista planejava cobrar de Ciro uma posição sobre o convite feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o deputado troque a disputa presidencial pela corrida ao Palácio dos Bandeirantes em outubro.

A promessa de dar uma espécie de ultimato a Ciro foi anunciada na semana passada, após reunião entre dirigentes de siglas como PT, PSB, PDT e PC do B. Empenhado em firmar posição, o grupo já admitia nos bastidores que o plano teria alcance limitado, já que dependeria de Ciro disponibilizar espaço na agenda para o encontro. Ainda assim, a ordem era ampliar esforços para desamarrar os preparativos da campanha.

"O PT não pode entrar em março sem uma definição sobre quem será seu candidato em São Paulo", justifica o presidente do PT paulista, Edinho Silva. A ideia de colocar Ciro na vaga tem como patrocinador o próprio Lula, que tenta viabilizar uma eleição plebiscitária entre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O adiamento do encontro, entretanto, ajudou a alimentar a articulação no PT em busca de outra alternativa para a eleição paulista.

Líderes petistas intensificaram as pressões sobre o senador Aloizio Mercadante (SP). O Estado noticiou na semana passada que Lula avisou ao senador que o considera o melhor nome no PT, caso Ciro recuse o convite. A conversa ocorreu no dia 27, antes de Lula embarcar para Pernambuco, para encontrar o governador Eduardo Campos (PSB). A interlocutores, Mercadante tem insistido que sua permanência na disputa pelo Senado é a melhor opção para o PT e para o governo.

O fato de Lula ter mencionado o nome de Fernando Haddad reacendeu também a articulação de alas do PT que ainda têm esperança de emplacar o ministro da Educação na vaga. Circulam, por exemplo, sugestões para que ele se comprometa a não disputar a prefeitura em 2012, de forma a amenizar a resistência do PT paulista ao seu nome, em especial no grupo da ex-prefeita Marta Suplicy. "Haddad traz para o debate uma área em que somos fortes e os tucanos são fracos", diz o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

Apesar de Lula ter dito que Marta "canalizou o ódio da elite paulista", a ex-prefeita já avisou internamente que está disposta a concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Mas sua prioridade continua sendo uma vaga na disputa para o Senado.

Marta também achou melhor amenizar a resistência que já havia manifestado em relação à possível candidatura do deputado em São Paulo. Para isso, aproveitou a posse da nova direção petista na capital paulista, anteontem. "É melhor um cabra arretado que um picolé de chuchu", disse, alfinetando o secretário de Desenvolvimento do Estado, Geraldo Alckmin, cotado para disputar o governo pelo PSDB. O evento não teve repercussão, mas Marta encarregou-se de divulgar um vídeo por meio de sua assessoria. Aliado da ex-prefeita, o deputado Carlos Zarattini (SP), reforça o coro. "Temos o PT aberto a uma coligação em torno de Ciro, mas temos um cronograma." O prazo, diz ele, é o congresso estadual do PT, em março.