Título: Para representante europeu, Lula deve rever visita a Teerã
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2010, Internacional, p. A12

Vice-chanceler da Itália diz que UE quer clareza do Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria rever seus planos de visitar o Irã em maio após a decisão de Teerã de enriquecer urânio a 20%. A recomendação foi feita pelo vice-ministro de Relações Exteriores da Itália, Vincenzo Scotti. Em entrevista ao Estado, em Genebra, Scotti deixou claro que Bruxelas e Washington pretendem formar uma aliança para pressionar Teerã.

Os EUA anunciaram ontem que querem a aprovação de sanções contra Teerã "em questão de semanas, não meses". A China, porém, continuou a dar sinais de que é contra as medidas de pressão. "Estamos, de fato, conversando com os países emergentes, que precisam tomar posições claras", disse o vice-chanceler italiano, questionando a insistência do Brasil em manter o diálogo com o Irã.

Scotti é um dos políticos que mais ocuparam postos de alto escalão no governo italiano. Já foi chanceler, ministro da Cultura, do Trabalho, da Justiça e de Assuntos Europeus. "Temos de formar um grupo unido. Só assim mostraremos força para pressionar o Irã", afirmou. "A posição da Itália é a mesma da União Europeia e dos EUA."

Questionado sobre a visita de Lula a Teerã, em maio, Scotti foi claro: "Diante dos últimos acontecimentos, acho que Lula deveria pensar melhor." Fontes na diplomacia francesa confirmaram o mal-estar que uma viagem do presidente brasileiro a Teerã causaria na Europa. Um dos temores é o de que o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, use a ocasião para mostrar que não está isolado e conseguir legitimidade.

Em Israel, o premiê Benjamin Netanyahu também defendeu ontem a adoção de sanções. "O Irã está avançando na direção de uma arma nuclear", disse. Teerã alega que pretende usar o seu urânio enriquecido a 20% para fins pacíficos.