Título: Amorim rejeita sanções ao Irã
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2010, Internacional, p. A12

Para chanceler, medida não deu certo contra o Iraque, nos anos 90, e traria apenas sofrimento aos pobres do país

BRASÍLIA Ciente das dificuldades de um acordo entre o Irã e o Ocidente, o chanceler Celso Amorim disse ontem que novas sanções contra Teerã não trarão os resultados pretendidos e produzirão sofrimento aos pobres do país. Amorim demonstrou sua insatisfação com o fato de a questão ser avaliada com base nas impressões de um dos lados da disputa - o Ocidente - no mesmo dia em que o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou que seu governo prepara um "pacote de sanções" contra Teerã (mais informações na página 14).

Impasse nuclear:

"Não sou ingênuo sobre as dificuldades de um acordo. Mas o outro caminho, o das sanções, foi perseguido nos casos do Iraque e do Irã sem que nada tivesse acontecido", afirmou o chanceler, em entrevista ao Estado, no Itamaraty. "Se as sanções econômicas contra o Irã se tornarem mais apertadas, quem sofrerá são os setores mais frágeis da sociedade."

Durante a conversa, Amorim sugeriu que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) poderia tomar a iniciativa de chamar as duas partes para dirimir as dúvidas em torno de suas propostas. Segundo ele, partiu do Irã a proposta de adquirir no exterior combustível nuclear para fabricar radiofármacos. Por isso, para Amorim, as bases do acordo ainda são aceitas pelos dois lados.

O chanceler disse que a insistência do Brasil pela negociação não trará problemas para sua relação com a França, país que também defende levar à votação no Conselho de Segurança da ONU uma resolução sobre novas sanções ao Irã.

Sobre essa hipótese, o voto do Brasil ainda está em aberto. "Não sei como a resolução está escrita. Não sei o que vai acontecer. Hoje, minha percepção é a de que é possível o diálogo", afirmou (leia íntegra da entrevista nesta página).

CONSENSO

Ontem, a França abriu uma margem para que o Brasil e outros países convençam o Irã a firmar um acordo de troca de urânio enriquecido por combustível nuclear. Paris concorda com o Brasil e acredita que ainda há espaço para a negociação de uma solução. No entanto, Paris trabalha com um plano B, que seria a busca de um consenso no Conselho de Segurança sobre novas sanções. Nesse caso, a França espera que o Brasil não atrapalhe uma eventual unanimidade e vote com todos os demais membros do órgão.

A principal resistência entre países com assento permanente no conselho vem da China. Entre os membros não-permanentes, Brasil e Turquia são contra o cerco. Nigéria e Líbano não devem votar contra o Irã.

A posição francesa é conhecida. Durante sua passagem por Manaus, em novembro, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, expressou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva seu pessimismo em relação à possibilidade de o Brasil convencer o Irã a selar o acordo. O encontro ocorreu apenas três dias após a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a Lula.

O governo francês argumenta que o Irã não respondeu aos apelos do Ocidente para enriquecer seu urânio no exterior.No ano passado, a confiança em Teerã desgastou-se com a descoberta de uma usina nuclear secreta. Para a França, desde a visita de Ahmadinejad ao Brasil, o Irã continuou a desconsiderar as posições das potências ocidentais e a investir em um programa nuclear.

Há cerca de um ano, Sarkozy declarou que havia duas opções: a bomba nuclear do Irã ou o bombardeio contra o Irã. Em janeiro, o presidente francês alertou sobre a possibilidade de um ataque militar de Israel às instalações nucleares iranianas. Na segunda-feira, após a visita a Paris do secretário americano de Defesa, Robert Gates, os EUA e a França concordaram que o momento é de aplicação de "duras sanções" para forçar o Irã a retomar o diálogo.