Título: Dividida, UE busca saída para a Grécia
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2010, Economia, p. B8/10
Países que não usam o euro querem o envolvimento do FMI, ideia rejeitada por França e Alemanha, entre outros
A União Europeia e a Alemanha negociam um plano para salvar a Grécia, evitando que outras economias sejam afetadas e reduzindo os ataques ao euro. Mas, às vésperas de uma cúpula, o bloco está dividido sobre como seria um pacote de resgate, e não há um entendimento sobre quem pagaria a conta. Países europeus que não usam o euro querem o envolvimento do Fundo Monetário Internacional (FMI), ideia rejeitada por Bruxelas.
Hoje o governo alemão se reúne para definir uma proposta, enquanto o presidente da França, Nicolas Sarkozy, recebe os gregos para obter um compromisso de que o déficit será atacado. Amanhã, líderes da UE fazem uma cúpula para avaliar várias medidas, que têm como meta dar um sinal político de que a UE tem resposta à pior crise da moeda comum desde a sua criação.
Uma das propostas que vêm sendo debatidas entre Bruxelas e Berlim é a de estender aos gregos um plano de garantias, como forma de ajudar no financiamento da dívida. O governo alemão insistiu ontem que ainda não há nada fechado. Mas o Banco Central Europeu (BCE) também estaria envolvido nas negociações. Berlim não quer arcar com os custos e quer que a Grécia "pague um preço" pela ajuda.
Além de cortes em gastos públicos, Berlim quer garantias de que os déficits na Grécia serão definitivamente eliminados. Atenas, que já está sob uma espécie de tutela da UE em seu orçamento, ganharia novas obrigações. O debate ainda se refere a uma ampliação desse pacote para outras economias com problemas.
A notícia de um eventual pacote provocou alívio nos mercados europeus, evitando perdas nas bolsas e elevando os preços de commodities e do próprio euro. Os únicos insatisfeitos, porém, são os sindicatos, que planejam paralisar a Grécia hoje, enquanto outros se movimentam para promover ações similares em outras capitais da Europa.
Depois de tentar superar a recessão, os governos vivem uma nova crise: a da dívida. Os mercados temem que países como Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal não tenham como financiar os rombos em suas contas.
A especulação sobre um pacote começou quando o presidente do BCE, Jean Claude Trichet, abandonou ontem, antes do fim, uma reunião de presidentes de BCs na Austrália. A assessoria do BCE insistiu que a decisão de retornar à Europa era uma questão logística. Mas os mercados passaram a apostar que isso fosse um sinal de que a UE estaria preparando um pacote.
A notícia sobre um eventual pacote teve efeito imediato. O euro subiu mais de 1%, depois de sofrer as maiores perdas em nove meses na semana passada. O risco da Grécia caiu 80 pontos, para 340, enquanto as ações de bancos gregos subiram 5%. Os riscos da Espanha e Portugal também sofreram quedas. Eles chegaram a estar acima do risco Brasil na sexta-feira.
No fim de semana, ministros europeus já deixaram claro ao G-7 que não queriam a intromissão do FMI na questão e buscariam uma "solução europeia". O problema é que, pelas leis da UE, países não têm direito de serem resgatados.
Ontem, o site em alemão do Financial Times já publicava a notícia de que o governo de Berlim preparava um plano para salvar a Grécia. A notícia foi logo confirmada pelo vice-líder da União Democrática Cristão no Parlamento, Michael Meister. Agências de notícias indicaram que o governo alemão havia obtido da UE um compromisso de que a Grécia seria ajudada. Como a lei proíbe um pacote de resgate, a ideia mais cogitada era um empréstimo do governo alemão aos gregos. Duas horas depois, o governo alemão desmentiu o acordo. As bolsas europeias já estavam fechadas. No início da noite, Berlim disse que não existia uma data para concluir um pacote.
Durante a criação do euro, foram os alemães que fizeram questão de incluir no tratado a proibição de pacotes de resgate. Temiam pagar a conta, exatamente o que pode ocorrer agora. Tanto o BCE como o Banco de Investimentos Europeu indicaram que não poderiam entrar em um plano de resgate.
DIVISÃO
Todos concordam que a Grécia precisará de ajuda. Mas não há acordo sobre como isso ocorreria. Ontem, a divisão ficou clara. Países que não usam o euro, como o Reino Unido e Suécia, sustentam que o FMI deve ser usado para bancar o déficit grego. Esses governos estimam que o risco de um contágio existe e não se trata apenas de um problema da zona do euro. Para os países que usam o euro, chamar o FMI seria a comprovação de que o euro ainda não ganhou posição de moeda de referência. Ontem, o próprio governo grego afirmou ser contra uma intervenção do FMI. Alemanha e França são os que mais se opõem à ideia.