Título: FMI ressalta papel de emergentes na retomada
Autor: Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2010, Economia, p. B6

Diretor-gerente do Fundo destaca, em especial, o crescimento da China

Agências Internacionais

TÓQUIO O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse que economias emergentes como Brasil, China e Índia lideram a saída da crise global, mas devem se reorientar para um maior consumo interno. Para ele, a Ásia está marcando o fim da crise econômica mundial, especialmente a China, com números de crescimento semelhantes aos de antes da crise.

Dados do FMI anteciparam em outubro o fim da recessão em 2010 e consolidaram a Ásia como motor da recuperação de uma economia global que crescerá 3,1% este ano, dado que pode ser revisto para cima na apresentação deste mês do novo relatório da entidade.

Strauss-Kahn, que esta semana visita Japão e Hong Kong, estima que os emergentes devem se orientar para potencializar a demanda interna, em substituição ao enfoque exportador, e sustentar, assim, avanços em um novo contexto econômico.

Segundo ele, o modelo de crescimento da economia global não será o mesmo de antes do crash financeiro dos Estados Unidos e sua extensão ao resto do mundo, já que os consumidores americanos deixaram de ser peça-chave do desenvolvimento mundial.

Segundo Strauss-Kahn, muitos acham que o próximo motor mundial serão economias como Brasil, Índia e China, mas isso não será tão fácil, pois os números macroeconômicos não favorecem essa mudança de maneira tão simples. "As fontes do crescimento da próxima década serão os países emergentes, a economia verde e a tecnologia", disse Strauss-Kahn, acrescentando que, apesar de tudo, líderes tecnológicos como Japão e EUA não serão deslocados nessa transição.

Os números do relatório Perspectivas Econômicas Mundiais, que a instituição apresentará no fim do mês, podem mostrar a volta da China a ritmos de crescimento anteriores à crise, em grande medida graças aos estímulos e ao gasto público.

Para Strauss-Kahn, tanto as economias emergentes quanto as desenvolvidas "estão se recuperando mais rápido" do que o inicialmente previsto, mas alertou sobre a fraqueza da melhora e a possibilidade de falta de liquidez. Ele disse que é cedo demais para retirar as medidas governamentais, a fim de cimentar a recuperação, e lembrou que "as estratégias de saída" serão a chave para não cair de novo na recessão global, que gerou "altos níveis de dívida".

O diretor aconselhou aos governos a manutenção de medidas de estímulo até que a melhora da demanda interna seja sustentável. Essas medidas, na maioria injeções de liquidez e ajuda ao consumo, representaram despesa de cerca de US$ 2 trilhões no mundo todo, após a crise no sistema hipotecário americano em 2008.

"Se voltarmos a sofrer nova baixa do crescimento, então não sei o que podemos fazer em termos de política monetária. Será muito, muito difícil se recuperar.".

Strauss-Kahn pediu que os ministros de Finanças e de Economia e os líderes do G-20(os países mais ricos e os principais emergentes) mantenham o consenso adotado em 2009 para sair da crise. "Uma das lições mais claras que obtivemos foi a necessidade de melhorar a regulação e, sobretudo, a supervisão do sistema financeiro", disse, acrescentando que não foi feito o suficiente a esse respeito.