Título: Mercado prevê rombo maior nas contas externas
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2010, Economia, p. B4
Pesquisa Focus do BC projeta para este ano déficit de US$ 45,5 bilhões, o dobro do estimado para 2009
BRASÍLIA
As contas externas do País devem amargar neste ano um déficit de US$ 45,5 bilhões, o pior da história, segundo projeção dos analistas do mercado financeiro, divulgada ontem pelo Banco Central (BC). O levantamento mostra uma sensível piora em relação à expectativa mantida até a semana passada, na qual o saldo negativo era estimado em US$ 41,3 bilhões.
O resultado projetado pelo mercado é mais que o dobro do déficit de US$ 20,5 bilhões esperado para 2009 ? número que será divulgado amanhã pelo governo. Para 2011, a piora nas previsões foi ainda mais drástica, e o déficit previsto subiu de US$ 47 bilhões para US$ 55 bilhões.
O déficit na chamada conta corrente (que contabiliza as transações comerciais, de serviços e rendas com o exterior) deve aumentar porque o crescimento da economia vai acelerar importações, gastos com viagens internacionais e remessas de lucros das empresas estrangeiras para o exterior. E essas despesas não terão contrapartida equivalente em aumento das exportações.
Boa parte dessa piora dos números é explicada pelo comércio exterior. Com o crescimento econômico e o dólar baixo, a expectativa do mercado é de que o superávit da balança comercial (diferença entre exportações e importações) deve cair 56% neste ano, na comparação com 2009, para US$ 10,75 bilhões. Para 2011, o saldo deve recuar ainda mais, para apenas US$ 4,5 bilhões.
"O Brasil vai crescer bastante nos próximos meses com um câmbio valorizado. Isso fará com que as importações cresçam muito e o déficit de transações correntes vai disparar", diz o professor de economia da USP Fabio Kanczuk. Na pesquisa do BC, o mercado prevê que a economia do Brasil deve crescer 5,30% em 2010 e 4,50% no próximo ano.
Normalmente, o déficit nas transações correntes é compensado pela entrada de investimento produtivo ? destinado, por exemplo, à construção de fábricas. Mas o mercado prevê que, em 2010, o déficit em conta corrente crescerá tão rápido que os US$ 37 bilhões esperados em Investimento Estrangeiro Direto (IED) não serão suficientes para cobrir o rombo. Se confirmado o quadro, será a primeira vez desde 2001 que o investimento produtivo será incapaz de compensar integralmente a saída dos dólares.
Com o câmbio flutuante, economistas preveem, nesses casos, a alta do dólar. "É possível que no longo prazo, em um horizonte de três anos, o câmbio suba para R$ 2,30 para compensar o déficit", diz Kanczuk. A subida do dólar aconteceria porque a demanda de compra da moeda estrangeira será maior que a oferta. Com uma cotação mais alta, as importações ficarão mais caras e é possível que diminuam de ritmo. Ao mesmo tempo, as exportações ganham fôlego, o que tende a gerar novo equilíbrio das contas externas.
Em meio ao cenário de forte recuperação da economia em 2010, os analistas aumentaram também a previsão de subida dos juros. Para o mercado financeiro, a taxa Selic, deve terminar o ano em 11,25% ao ano, ante previsão de 11% da semana passada.