Título: EUA se defendem de acusação de ocupar o Haiti
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2010, Internacional, p. A11

Porta-voz de forças americanas reitera que o comando é da ONU

correspondente em Washington

O governo americano lançou-se ontem em uma ofensiva de relações públicas para se defender de acusações de que os EUA estão "ocupando" o Haiti e tomando conta das operações de resgate e segurança no Haiti, em detrimento da ONU. "A missão é coordenada pela ONU, nós estamos apenas ajudando - o Brasil tem a liderança na Minustah, que tem como função cuidar da segurança no Haiti", disse ontem, em teleconferência, o capitão John Kirby, porta-voz das forças americanas no Haiti. Segundo ele, o presidente Barack Obama conversou com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Mike Mullen, falou com o ministro da Justiça brasileiro, Nelson Jobim, para planejar e coordenar a missão. Ontem, o ministro de Cooperação da França, Alain Joyandet, que já havia reclamado que os americanos não deixaram aviões franceses com suprimentos médicos pousarem no aeroporto de Porto Príncipe, voltou a criticar os EUA.

"A missão é ajudar o Haiti e não ocupar o país", ele disse, pedindo que os EUA esclareçam seu papel no Haiti. Kirby, na teleconferência, repetiu várias vezes que a ONU está no comando, e não os EUA. "Nossa missão no Haiti é humanitária - o lado militar é coordenado pela ONU, a Minustah, e nós apenas ajudamos. Existe uma missão de segurança, mas essa missão é da ONU e nós respeitamos isso."

Na domingo, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, havia afirmado que "a questão da segurança é tarefa da Minustah (a missão de paz da ONU), indiscutivelmente", acrescentando que isso tinha sido discutido com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. No entanto, o comunicado divulgado na madrugada de domingo por Hillary e pelo presidente do Haiti, René Préval, contraria essas declarações. No comunicado, os governos americano e haitiano afirmam que "o presidente Préval, representando o governo e o povo do Haiti, pede que os EUA ajudem conforme for necessário para aumentar a segurança no país, apoiando o governo do Haiti, a ONU e parceiros internacionais em terra."

Kirby informou que até o meio da semana haverá de 4 mil a 5 mil marines e soldados americanos no Haiti, além dos que estarão nos navios ancorados na costa do país, e eles estarão desempenhando funções de assistência humanitária. De acordo com Tim Callahan, chefe da equipe de assistência em desastres da Usaid - a agência de ajuda humanitária dos EUA -, há 43 grupos de busca no Haiti, dos quais 6 são americanos. No total, há 1.739 trabalhadores em equipes de resgate (506 americanos) e 161 cães farejadores.

Os americanos, diante de acusações de que estão privilegiando aviões militares no aeroporto, em vez de permitir pouso de aeronaves com suplementos médicos, voltaram a dizer que estão fazendo tudo a pedido do governo haitiano e da melhor maneira possível. "Ontem só tivemos de desviar três aeronaves", disse Callahan.

Em entrevista na sede da ONU, Ban afirmou que "a comunidade internacional apoia a liderança da ONU na coordenação dos esforços, e não há dúvidas sobre isso". Ele afirmou que as tropas da ONU atuarão em conjunto com as americanas.