Título: PAC 2 será arma de Lula para dar fôlego a Dilma nas grandes cidades
Autor: Nossa, Leonencio; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2010, Nacional, p. A4

Segunda etapa do programa focará as regiões metropolitanas no Sul e Sudeste, onde oposição é mais forte

O governo vai investir na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para alavancar a campanha presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O anúncio do PAC 2, em março, coincidirá com a época em que o governador de São Paulo, José Serra, planeja assumir sua candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo PSDB. Feito sob medida para turbinar o carro-chefe da campanha de Dilma, o PAC 2 será um dos temas mais importantes da primeira reunião ministerial do ano, marcada para quinta-feira, na Granja do Torto.

Lula orientará os ministros a adotar como foco de suas ações, nesta reta final do governo, as grandes cidades do País. Festejando números expressivos de popularidade nos grotões nordestinos, ele avisou que cobrará empenho da equipe para atrair os votos das regiões metropolitanas do Sul e Sudeste, onde a oposição está na frente para o início da disputa com a petista Dilma.

Na prática, o Palácio do Planalto prepara uma ofensiva de obras no Sudeste, principalmente em São Paulo e Minas - os dois maiores colégios eleitorais do País, administrados por tucanos -, independentemente da liberação de recursos para o PAC 2, que só deve ser incluído no Orçamento de 2011.

O guarda-chuva dessa segunda versão do PAC vai abrigar um conjunto de projetos novos e até mesmo velhos, sob nova embalagem, em transporte público, prevenção de enchentes, saneamento básico, tratamento de lixo, internet nas favelas e renovação tecnológica. São investimentos em 29 regiões metropolitanas, além da Rede Integrada de Desenvolvimento Econômico de Brasília, que englobam 463 cidades, onde vivem 79 milhões de pessoas - 43 % da população brasileira.

"O presidente quer que o PAC 2 tenha foco nas regiões metropolitanas e não vai permitir que as eleições ou mesmo o enfrentamento da crise mundial afetem as ações da economia e os programas sociais em 2010", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, após reunião de ontem do grupo que compõe a coordenação política do governo.

Ritmo Frenético

Chamada de "mãe do PAC" por Lula, Dilma vai viajar com ele em ritmo frenético, a partir de agora. A equipe do PT dividiu a campanha da ministra em três fases para traçar a estratégia contra Serra até julho.

A primeira etapa irá até 18 de fevereiro, quando o PT abrirá seu 4º Congresso Nacional e vai homologar a candidatura de Dilma. Nessa fase, que já está em curso, ela fará uma espécie de "aquecimento" petista e contatos políticos com partidos da base aliada. Seu staff prevê visitas mais frequentes a São Paulo, Minas, Rio e Pernambuco.

Depois do congresso do PT e até 3 de abril - quando deixará o cargo de gerente do governo para entrar na corrida sucessória -, Dilma intensificará o roteiro de inaugurações ao lado do presidente, seu maior cabo eleitoral. A partir de abril, ela contará com um escritório na sede do PT, em Brasília.

O discurso da campanha, que terá como mote o "novo desenvolvimentismo", vai bater na tecla da comparação entre os oito anos do governo Lula e de Fernando Henrique Cardoso. Mesmo com as estocadas do tucanato, o Planalto insistirá na tática da eleição plebiscitária.

Apesar do empenho para ganhar os holofotes com o PAC 2, o governo não fechou o volume de recursos para o programa, que será incluído no Orçamento da União de 2011. Anunciado como remédio para melhorar o sistema de infraestrutura do País, o primeiro PAC - que completará três anos na sexta-feira - foi bombardeado pela oposição, sob o argumento de que grande parte das obras não saiu do papel.

"O importante é que a gente tenha a garantia de que o PAC se manterá, com a continuidade do ritmo de investimento público", disse Padilha. "Isso dará segurança para o setor privado." O ministro deixou escapar que o PAC 2 também servirá para o presidente manter o ânimo da equipe no último ano de mandato, período que ficou conhecido nos bastidores do Planalto como "café frio". "A máquina tem de continuar andando", insistiu Padilha.