Título: Enquadrado,Vannuchi considera solução satisfatória e fica no cargo
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2010, Nacional, p. A4

O ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que ameaçou deixar o governo caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva suprimisse a questão da Comissão da Verdade do Programa de Direitos Humanos, considerou satisfatória a solução apresentada ontem. Ele acredita que a espinha dorsal da proposta da comissão foi mantida e não houve recuo.

Ao sair da reunião com o presidente e o ministro Nelson Jobim, ele comentou com seus assessores que, por enquanto, não deve deixar o governo. Fez questão de destacar a expressão "por enquanto", pois sabe que a crise ainda pode ter desdobramentos; e que ainda haverá disputas na constituição do grupo de trabalho que vai preparar o projeto de lei sobre a Comissão da Verdade.

Vannuchi não quer causar nenhum constrangimento a Lula. Petista, considera-se um ministro da casa, que pode ser sacrificado a qualquer hora em benefício do governo.

Internamente, ele foi criticado por Lula por ter incluído no programa a proposta de apoio ao projeto de lei que descrimina o aborto. Entre as mais de 500 propostas do programa, essa foi a que mais causou desconforto ao presidente. Para ele, o tema é delicado demais para ser tratado de forma tão incisiva.

As reclamações já levaram Vannuchi a fazer uma espécie de autocrítica. No interior do governo, admitiu que teria sido melhor propor um debate aberto e intenso sobre o tema.

A reunião de ontem durou cerca de 50 minutos. Foi mais rápida e menos tensa do que se previa, em decorrência dos acontecimentos no Haiti. Vannuchi, amigo de Zilda Arns, da Pastoral da Criança, parecia abalado com a notícia de sua morte durante o terremoto.

O ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social, também participou do encontro. O presidente falou sobre o novo decreto, criando o grupo que vai preparar o projeto de lei sobre a Comissão da Verdade. Mostrou o texto e, diante da anuência de Vannuchi e Jobim, pediu que evitem novas declarações polêmicas.

Lula procura concentrar a conversa nos pontos que considera realmente polêmicos. Até agora isso não inclui os ataques da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que vê no programa uma ameaça à propriedade privada.

Vannuchi argumenta que o programa recomenda apenas maior atenção das autoridades policiais nas ações de reintegração de posse, para evitar atos de violência, como o de Eldorado dos Carajás. É apoiado por alguns setores do governo, que tendem a minimizar as críticas da CNA. Para tais setores, a senadora teria transformado a entidade num palanque do DEM.