Título: Militantes históricos negam tom revanchistas
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2010, Nacional, p. A4

Um grupo de defensores históricos dos direitos humanos encaminhou ao presidente Lula uma carta reservada, na qual expressa apoio ao Programa Nacional de Direitos Humanos e defende a criação e a instalação de uma Comissão da Verdade. Entre as pessoas que assinaram a carta, à qual o Estado teve acesso, aparecem Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura nas dependências do antigo 2º Exército, em São Paulo, em 1975; e Tereza de Lourdes Martins Fiel, viúva do operário Manuel Fiel Filho, assassinado nas mesmas condições, em 1976.

A lista é encabeçada pelo cardeal d. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, principal responsável pelo projeto Brasil Nunca Mais ? o primeiro grande levantamento sobre violações de direitos humanos ocorridas na ditadura, divulgado na década de 80.

Aparecem ainda ao pé da carta, entre outros, Chico Buarque de Holanda, compositor; Fernando Morais, jornalista e escritor; Candido Mendes, educador; Antonio Candido, crítico literário; Paulo Sérgio Pinheiro, cientista político e relator da ONU para assuntos de direitos humanos; Maria Victoria Benevides, cientista política; Abdias do Nascimento, escritor e ativista do movimento negro, e d. Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Xingu.

Os signatários argumentam que a proposta da comissão não é revanchista e pode ajudar na consolidação da democracia brasileira. "Não pode ser chamada de revanchista uma proposta que se limita a jogar luz sobre as violências praticadas nos porões da repressão política", afirmam. "Os povos que se recusam a aprender com seus próprios erros estão condenados a repeti-los. É do futuro que estamos falando."

As próprias Forças Armadas poderão se beneficiar desse exame do passado, segundo a carta, porque "permitirá separar o joio do trigo".