Título: Mercadante ganha força para disputar governo
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2010, Nacional, p. A8

PT volta a citar nome do senador à sucessão de Serra, mas vaivém de Lula confunde partido

BRASÍLIA A demora na definição de um candidato que ajude a impulsionar a campanha presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) em São Paulo já preocupa o PT. Depois do pito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que às vésperas do Natal acusou o partido de cometer "grave erro" ao não repetir nomes para o governo paulista, os petistas entraram em polvorosa. A partir daí, cresceu o movimento pela candidatura do líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, à sucessão do governador José Serra (PSDB).

"Até hoje, a ausência de uma liderança deixou de potencializar as ações em prol do palanque da Dilma em São Paulo. A partir de agora, porém, essa lacuna já começa a atrapalhar", afirmou o presidente do PT paulista, Edinho Silva. Não é só: ele vai propor que uma comissão formada por integrantes dos partidos aliados converse até o início de fevereiro com Ciro Gomes (PSB-CE) para saber se o deputado será ou não candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

Embora Mercadante já esteja em campanha por um segundo mandato no Senado, o dirigente do PT acredita que ele pode mudar de posição a pedido de Lula. Mesmo se referindo ao ex-ministro Antonio Palocci, hoje deputado, e ao prefeito de Osasco, Emídio de Souza, como "bons candidatos", Silva fez questão de sublinhar os pontos favoráveis do senador: "Mercadante é o nome mais construído no PT."

ALOPRADOS

O senador disputou o governo de São Paulo contra o então prefeito Serra, em 2006, e não quer nem ouvir falar na corrida ao Bandeirantes. "Sou candidato à reeleição", insiste.

Há três anos, a campanha do PT foi abalada pela descoberta de um dossiê contra tucanos, montado por petistas, que Lula chamou de "aloprados". O inquérito chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas Mercadante foi excluído do rol de indiciados por falta de provas.

No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente avaliam agora que a pressão pró-Mercadante tenha por trás o objetivo de queimá-lo para dar a vaga ao Senado à ex-prefeita Marta Suplicy. Lembram até mesmo que ele colecionou desafetos ao ameaçar renunciar à liderança do PT, em meio à crise que quase derrubou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AC), no ano passado.

BOMBA ATÔMICA

"Só com a bomba atômica o PT pode vencer a eleição em São Paulo", comentou um assessor de Lula. A "bomba atômica", no caso, é Ciro Gomes.

Em conversas reservadas, ministros e dirigentes do PT admitem ser muito difícil derrotar o PSDB no maior colégio eleitoral do País, mesmo sem saber se o candidato será o secretário Geraldo Alckmin (Desenvolvimento) ou o chefe da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes Ferreira.

Apesar de ter transferido o domicílio eleitoral para São Paulo, Ciro repete como mantra que ou concorrerá à Presidência ou não disputará nada. Lula gostaria que seu ex-ministro da Integração fosse candidato à cadeira de Serra, com o apoio do PT. "Tenho muito apreço pelo Ciro", comentou. "É como se ele fosse meu irmão, um companheiro de primeira hora, de uma lealdade extraordinária."

Na prática, o presidente quer tirá-lo do caminho de Dilma ao Planalto, sob o argumento de que a base aliada deve se unir em torno de um único postulante contra Serra. Lula já percebeu, porém, que a resistência de Ciro ao projeto paulista é cada vez maior. É nesse cenário que ele defende um nome "testado" pelo PT em São Paulo.

O vaivém de Lula confunde os petistas. Há pouco tempo, seu preferido era Palocci, corre por fora o ministro da Educação, Fernando Haddad. "Se levarmos em conta a sugestão do presidente de repetir candidaturas, lembro que estou à disposição e não veria problema em disputar uma prévia com Ciro Gomes, chamando filiados do PT, do PSB e demais interessados a participar", disse o senador Eduardo Suplicy (SP). Nem no PT nem no governo, porém, alguém lhe dá ouvidos.