Título: Juro futuro reage em queda ao IPCA
Autor: Modé, Leandro; Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2010, Economia, p. B3
Segundo analista, investidores agora acreditam que BC vai elevar taxa básica de juros a partir de abril
O mercado futuro de juros reagiu em queda ao IPCA de 2009 (4,31%) e de dezembro (0,37%). A taxa projetada para julho, por exemplo, encerrou o dia em 9,08%, ante 9,13% de terça-feira. Um analista de mercado explicou que, como os números ficaram dentro das projeções, os investidores passaram a acreditar que o Banco Central (BC) começará a elevar o juro básico (Selic) em abril. "Até ontem (terça-feira), a maioria apostava em uma alta já em março."
Segundo a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, havia grande expectativa de que o IPCA de dezembro poderia surpreender para cima. Como isso não ocorreu, as taxas futuras caíram. Ela espera para os próximos três meses "testes" importantes para a inflação. "Existe a sazonalidade normal de início de ano, como alta das custos de educação", explicou. "É preciso ver como os preços dos serviços vão reagir ao reajuste de quase 10% do salário mínimo."
Zeina também chama a atenção para a recente alta dos preços das commodities. "Se essa tendência se intensificar, há riscos para a inflação já em 2010", disse. Hoje, a maioria dos especialistas avalia que o IPCA deste ano ficará dentro da meta de 4,5%. Por isso, a alta da taxa Selic em 2010 teria como objetivo evitar um IPCA fora da meta apenas em 2011.
Por ora, Zeina acredita que o BC começará a elevar a Selic em julho. No fim de 2010, a taxa básica, nas contas dela, estará em 9,75% ao ano, o que representa uma elevação de 1,5 ponto porcentual em relação a hoje.
O economista Paulo Rabelo de Castro, sócio diretor da RC Consultores, projeta alta da Selic para 10,25% em dezembro. Para ele, o início do aperto monetário dever ocorrer depois das eleições de outubro, independentemente de quem esteja na presidência do BC.
"O que nós identificamos como fator crítico das dificuldades da economia brasileira neste momento são mais relacionadas aos aspectos fiscais, que obviamente atuam sobre a questão dos juros", disse. "O governo está impulsionando uma economia que já não precisaria de tanto estímulo do gasto público não coberto por receitas."
Na opinião de Rabelo de Castro, o BC deve aumentar os juros diante da aceleração da economia brasileira. Ele nota que, em alguns segmentos da atividade, a taxa de expansão já chega aos dois dígitos. Além disso, observou, há uma crescente ocupação da capacidade instalada da indústria e se afastou por completo o fantasma da deflação que ameaçava o mundo. "Tudo somado, o que fica é um potencial de inflação provavelmente preocupante."
SEM PRESSÃO
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, discorda dos colegas. "Ainda não consigo ver razão para uma alta do juro", disse. "Todos os determinantes que colocamos no nosso modelo matemático estão comportados: não há pressão de taxa de câmbio, das commodities e os serviços vêm desacelerando. O único ponto de preocupação é a utilização da capacidade instalada da indústria, mas, mesmo isso, só para 2011."
O economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor do Departamento de Economia da PUC de São Paulo, também não vê motivos para o BC voltar a aumentar os juros. "O IGP-M e o IGP-DI deram deflação em 2009, o que significa que os preços administrados vão dar um refresco este ano", argumentou.