Título: Não posso ser responsabilizado pelos atos de outras pessoas
Autor: Pires, Carol
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2010, Nacional, p. A7

Vice assumiu ontem o governo do DF e diz que Arruda sempre foi ""um administrador competente""

O governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), disse ontem ao Estado que passou seu primeiro dia à frente do Executivo em conversas com políticos sobre a necessidade de que seja mantida a governabilidade enquanto o titular, José Roberto Arruda (sem partido), encontra-se preso e afastado do cargo. "Assumo o governo no momento mais difícil da história política de Brasília. Entendo que minha responsabilidade é muito grande e estou conclamando os partidos a um debate, um diálogo e um entendimento", afirmou. Apesar dos apelos, ele foi alvo ontem de 4 pedidos de impeachment. Eis a entrevista:

Com o governador José Roberto Arruda (sem partido) na prisão, o sr. passou ontem seu primeiro dia como governador do Distrito Federal em reuniões com assessores, equipe de governo, secretários. Encontrou-se com o presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal... Qual a sua avaliação do seu primeiro dia de governo?

O primeiro dia foi para mostrar a todos entes políticos de Brasília a necessidade da governabilidade. Assumo o governo no momento mais difícil da história política de Brasília, entendo que minha responsabilidade é muito grande e estou chamando os partidos a um debate, a um diálogo, entendimento.

O sr. acha que vai conseguir manter a governabilidade?

Todos estão preocupados com o momento, o próprio presidente Lula tem preocupação com o momento. Temos uma reunião agendada para quarta-feira, vamos debater Brasília. Brasília é muito importante para o Brasil. O próprio presidente tem tido uma sintonia muito grande com a cidade.

Seu partido, o DEM, determinou que todos os filiados saíssem da administração Arruda. Agora o sr. assume o governo com a mesma equipe de secretários e a mesma base aliada. O sr. já entrou em contato com dirigentes do DEM?

Falei com o presidente Rodrigo Maia. Pela manhã eu pedi licença da presidência do DEM no Distrito Federal, passo para o deputado Osório Adriano, no sentido de facilitar as coisas. Tenho de agir de forma suprapartidária, buscar o entendimento com outros partidos, abro mão da presidência da DEM, da minha candidatura, estou dando provas de sacrifício pessoal em busca da governabilidade. Entendo que o momento é grave e a governabilidade é mais importante que as minhas ambições políticas.

O sr. se arrepende de ter feito parte da mesma chapa de Arruda?

Não me arrependo, porque o governo chegou a ter 90% de aprovação em novembro. O projeto de governo que foi feito em Brasília é sensacional, tanto que todo o desenvolvimento da cidade, a quantidade de obras, a busca da legalização das terras públicas, o que foi feito de avanço na forma de administrar foi muito importante. Entendo que está aí dada a contribuição.

O senhor acredita na inocência de Arruda?

A questão está na esfera judicial, o governador Arruda sempre foi determinado, um administrador competente, trabalhou muito, sou testemunha da dedicação dele. Quanto às questões da esfera judicial, confio na Justiça brasileira, acredito que a Justiça vai chegar a um fim a essas investigações e com certeza será honrado.

O sr. nega envolvimento no suposto esquema de propina revelado pela Operação Caixa de Pandora?

Tenho a consciência tranquila.

O presidente da OAB-DF disse que o sr. não tem condições jurídicas e políticas para suceder a Arruda.

Olha, vivemos um momento político, logicamente eu sei que vou ter adversários neste momento, críticas, tenho de enfrentar. Posso facilmente abrir mão, poderia facilmente não assumir o governo, aí eu pergunto: como ficaria Brasília? Mesmo com as críticas que vou enfrentar, tenho minha consciência totalmente tranquila, qualquer fato que foi apontado contra mim foram de outras pessoas. Não posso ser responsabilizado pelos atos de outras pessoas.

O sr. teme uma intervenção no DF?

Eu, neste momento, quero ser um facilitador. Eu não temo absolutamente nada. Deus me poupou do sentimento de medo, temos uma responsabilidade muito grande, do Executivo, Legislativo, Judiciário de buscar um caminho para Brasília. O caminho vai ser encontrado no entendimento, acho uma atitude precipitada essa da intervenção. Quero deixar isso por conta do Supremo.

O Estado revelou que o seu grupo empresarial é acusado de provocar rombo de R$ 27 milhões na Caixa Econômica Federal. O Ministério Público Federal entrou com denúncias contra suas construtoras. Isso não procede, é inclusive bom dizer que não sou citado nesse processo, é uma briga política. O grupo empresarial está tranquilo. Os adversários como não conseguem me atingir, tentam atingir as empresas.

O senhor é candidato ao governo do DF em outubro?

Eu não serei candidato a nada. Abro mão da minha candidatura ao governo de Brasília.

E nas eleições seguintes?

Acho que vou estar muito velhinho, na vida tudo tem o seu tempo, tem o tempo para saber parar.

Então, 31 de dezembro de 2010 é o fim de sua vida política?

Infelizmente, será. Não que eu tivesse planejado isso, mas as circunstâncias e uma conversa com a família foram fundamentais para que eu aceitasse esse desafio. Aceito o desafio e paro com a política.

Sábado (hoje) é seu aniversário. Como o senhor vai comemorar?

De uma forma até difícil, tinha uma viagem programada com a família, parte do aniversário no Brasil e parte no exterior. Todo mundo viajou pros EUA e eu ficarei aqui em Brasília.

Não vai assistir ao desfile da Beija-Flor sobre Brasília?

Vou ver pela TV, torcendo para que a Beija-Flor ganhe.

O governo tem encontrado dificuldades para acertar as atrações da festa de comemoração dos 50 anos de Brasília. Quem vem?

Pelo contrário, tem muitos importantes grupos musicais querendo vir cantar para Brasília. Estamos buscando agora uma atração internacional.