Título: Na lavoura mecanizada, desafio é encontrar gente qualificada
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2010, Economia, p. B3

Em Goiás, parceria dá origem a escola profissionalizante

Desde os 14 anos, quando chegou ao interior de São Paulo, o cearense José Alcides do Nascimento corta cana de açúcar. Mas os dias de bóia-fria ficaram para trás. Hoje ele dirige orgulhoso uma colheitadeira, que faz todo o trabalho pesado.

"É um sonho realizado. No corte de cana, o desgaste físico é grande. Eu não conseguia estudar, não conseguia fazer nada", diz Nascimento. Aos 31 anos, ele comprou uma casa e prepara o casamento com a namorada de oito anos.

Mas não foi fácil mudar de vida. Sempre que tinha uma oportunidade, Nascimento ficava de olho no trabalho dos operadores de colheitadeiras. Ele se esforçou para completar os estudos e tirar a carteira de habilitação. "É preciso ser esperto." Na entressafra, está aprendendo uma nova profissão - trabalha de ajudante dos mecânicos de tratores.

Trabalhadores com a iniciativa do ex-bóia-fria ajudam a resolver um problema grave para o agronegócio: a falta de mão de obra qualificada, cada vez mais necessária à medida que avança a mecanização na lavoura.

O Grupo Usina São João, onde Nascimento trabalha, surgiu no interior de São Paulo, em Araras. Há alguns anos, adquiriu uma nova propriedade em Quirinópolis, no sudoeste de Goiás. Segundo o diretor de gestão de pessoas da empresa, Miguel Feres, a colheita é 100% mecanizada, o que torna complicada a tarefa de encontrar mão de obra.

Quinta-feira, o Senai, em parceria com a empresa e a prefeitura, inaugurou uma escola profissionalizante na região. O grupo USJ está construindo uma nova usina de cana de açúcar em Cachoeira Dourada (GO) e vai precisar de trabalhadores qualificados.

"Não é fácil encontrar pessoas para manejar tratores e colheitadeiras modernas. Ou você forma internamente ou tira de alguém", disse Feres. Ele contou que a empresa acaba trazendo profissionais de Goiânia, o que aumenta o custo.

Em Araras, apesar da maior disponibilidade de mão de obra qualificada, também não é fácil contratar gente. "Os jovens não querem trabalhar na agricultura", diz o executivo.