Título: Assentada que descobriu R$ 800 mil depõe contra MST
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2010, Nacional, p. A10

Defesa alega que ela pode ter sido usada como ""laranja"" para desvios

O Ministério Público Federal em Ourinhos, no sudoeste paulista, tomou ontem o depoimento da assentada do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Iaras Zildenice Ferreira dos Santos. Ela diz ter descoberto que tem quase R$ 800 mil em sua conta na Caixa Econômica Federal.

A advogada da assentada acredita que ela poderia estar sendo usada como "laranja" de um possível esquema de desvio de dinheiro envolvendo uma cooperativa do Movimento dos Sem-Terra (MST). Zildenice contou que foi procuradora de um programa habitacional da Caixa para os assentados, mas deixou a função em 2008. A conta, no entanto, continuou a ser movimentada em seu nome.

O procurador da República Svamer Adriano Cordeiro informou que prosseguirá com a apuração. Em São Paulo, o superintendente do Incra no Estado, Raimundo Pires da Silva, divulgou nota na qual afirma que nenhuma cooperativa faz parte do programa de moradia rural desenvolvido no Zumbi dos Palmares, através de convênio entre o órgão e Caixa.

Ainda segundo a nota, a conta aberta no banco é de um grupo de assentados ligados ao programa, representados junto à Caixa por três procuradores. "Os procuradores são eleitos em assembleia, concordam com a representação e assinam a abertura da conta-poupança. A movimentação dessa conta é exclusiva para pagamento de fornecedores de materiais de construção", diz Pires.

Ainda segundo a nota, Zildenice foi uma das procuradoras do grupo de moradia até julho de 2008, quando pediu afastamento e foi eleita nova procuradora. Em outubro do mesmo ano, o Incra solicitou à Caixa a troca de procurador. "Portanto, não há que se falar em desconhecimento de informações ou uso indevido de nome, nem desvios", disse Pires.

A Caixa também divulgou nota, na qual afirma que Zildenice era, de fato, uma das três representantes do grupo de assentados que tinham conta na instituição. O texto também diz que a Caixa foi comunicada sobre a troca de representante e fez a alteração. O extrato teria continuado a ser emitido no nome da antiga correntista, porém, devido a uma demora na atualização nos dados do cadastro.

MADEIRA ILEGAL

De acordo com a assessoria do Ministério Público Federal, a Polícia Federal em Marília abriu inquéritos para apurar a extração indevida de madeira no assentamento em Iaras, tanto por particulares quanto por meio de um convênio celebrado entre o Incra e a Cooperativa de Assentados do Projeto de Assentamento Zumbi dos Palmares (Cocafi), ligada ao MST. Um dos inquéritos foi aberto a pedido do Incra, que noticiou incêndios criminosos na área.