Título: Ganhos da Caixa caem 23% no ano
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2010, Economia, p. B1

Queda foi provocada pela expansão do crédito contra a crise, diz o banco

A Caixa Econômica Federal fechou 2009 com um lucro líquido de R$ 3 bilhões, 23% menor que em 2008. O banco atribuiu a queda nos ganhos à crise econômica global, já que, por decisão do governo, teve de aumentar seus créditos e ampliar sua exposição para enfrentar a escassez de financiamento no País.

O resultado do ano passado contrastou com o de 2008 (R$ 3,9 bilhões), quando o lucro cresceu 62,4%. Apesar da queda dos ganhos anuais, a Caixa teve no último trimestre de 2009 um lucro líquido de R$ 972 milhões, com aumento de 57,4% em relação ao mesmo período de 2008.

Para este ano, a Caixa espera um lucro líquido entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões. Esse é o valor que consta do orçamento, mas o vice-presidente Marcos Vasconcellos acredita que a projeção pode ser superada com a maior demanda por crédito. "O número pode ser maior, ficando em linha com os R$ 3 bilhões de 2009."

Embora a Caixa já tenha fechado o orçamento deste ano, uma revisão deverá ser feita em breve. Isso porque as concessões de crédito estão acima das projeções iniciais. A presidente Maria Fernanda Ramos Coelho informou que, no caso do financiamento habitacional, o principal produto de crédito da instituição, o crescimento no ano, até 9 de fevereiro, está em 116%, acima dos 26,3% contemplados no orçamento de 2010.

A executiva informou que as operações nos demais segmentos, pessoa física e jurídica, também estão acima da projeção inicial, mas não detalhou como estão os desempenhos. "Queremos ter aumento expressivo na participação de mercado." Em 2009, a Caixa ficou com uma fatia de 8,8% do total de crédito no sistema financeiro. A expectativa é superar os 9% neste ano.

A estratégia de crescimento, segundo Maria Fernanda, será baseada na baixa renda, e por essa razão a instituição não pode perseguir o "lucro máximo", como em outras. "Nosso mercado não permite isso. Trabalhamos mais com crédito direcionado, que possui taxas de juros regulamentadas."

A Caixa estima que o crédito total deve crescer 28,2% em 2010, mas o número deverá ser revisto. A projeção média do mercado para todo o sistema financeiro está em torno de 20%.

NOVAS AGÊNCIAS

Para atender a esse crescimento, a instituição planeja abrir 200 agências no decorrer do ano e atuar no varejo. Para isso, espera receber contribuição do Panamericano, que tem cerca de 2,5 milhões de clientes nas várias linhas de crédito ao consumo (a Caixa comprou participação no Panamericano no fim de 2009). A ideia é trazer esses clientes para o banco federal.

A instituição considera ainda que, para atingir o crescimento esperado no crédito, possui um índice de Basileia confortável. Em dezembro, era de 17,5%. Segundo Vasconcellos, esse indicador permite expandir a carteira até R$ 230 bilhões ou R$ 240 bilhões. Em dezembro, o total de empréstimos era de R$ 124,371 bilhões.

O crescimento mais forte do crédito na Caixa em 2009 - avanço de 55,3% sobre 2008 - alterou também o perfil de ativos da instituição. Pela primeira vez desde a reestruturação da Caixa em 2001, os ativos de crédito foram superiores aos de títulos e valores imobiliários.

INADIMPLÊNCIA

A taxa de inadimplência da Caixa, considerando os atrasos superiores a 90 dias, caiu em 2009 para 3,4%, ante 4% no fim de 2008. Nas operações para pessoas físicas, a redução foi de 0,8 ponto, para 5,2%, e nas pessoas jurídicas o índice de atrasos caiu de 2,2% para 1,8%. Só no financiamento habitacional houve uma ligeira evolução, passando de 1,75% para 1,8%.