Título: Novos ciclos de alta do juro tendem a ser mais suaves
Autor: Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2010, Economia, p. B3
Gustavo Loyola: sócio da Tendências Consultoria[br][br]Para ex-presidente do BC, taxa Selic não deve passar de 11,25% em 2011, ante um pico de 13,75% do ciclo anterior
O próximo ciclo de alta dos juros, esperado para começar em abril, deve inaugurar um período de teto menor, prevê o ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola. Ele aposta que a taxa básica de juros não deve passar de 11,25% em 2011, ante um pico de 13,75% do ciclo anterior, encerrado em 2008.
Em entrevista à Agência Estado, Loyola também comentou a divergência entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles. Para ele, haveria problema se o mercado desconfiasse de interferência política no Comitê de Política Monetária (Copom).
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Na sua opinião, qual será o próximo aumento da Selic?
Os ciclos de alta do juro tendem a ser mais suaves que no passado. O próximo não passará de 2,5 pontos porcentuais. No fim desse processo de alta, a taxa Selic será de 11,25%, por aí. Esse é um cenário básico. Se houver imprevisto, muda.
Quanto tempo duraria esse ciclo?
Penso que o BC começaria em abril, com alta de 0,5 ponto porcentual. Acho que quanto mais rápido o BC fizer o aumento, melhor. Maior o efeito. E o desgaste político, se houver, é o mesmo e o ciclo dura menos. Como é início de ciclo de alta, não há risco de overdose. No fim do ciclo é que se reduz o ritmo. Acho que podem ser duas, três ou quatro doses de 0,5 ponto e depois passa a 0,25 ponto. Mas, o fim do ciclo de alta só aconteceria no ano que vem. Poderiam ser quatro (altas) de 0,5 ponto e duas de 0,25 ponto, algo assim.
Essas divergências entre Meirelles e Mantega sobre os juros têm um significado maior para os agentes econômicos?
É ruim, mas, no fundo, ninguém acredita que o ministro interfira de fato na política monetária. Todo mundo acha que ele fica nesses recadinhos aí ao BC, mas isso não é levado em consideração pelo Copom. Se o mercado entendesse que o BC virou refém da política, seria muito ruim. Mas, no momento, o mercado acredita que há ligação direta entre Meirelles e o presidente (Lula). Na medida em que o presidente não quer marola na economia e não apoia as tentativas de diminuir a força e a autonomia do BC, tudo bem. O mercado vê o ministro como alguém que não é muito importante na política monetária, em que pese seu cargo.
E quando Meirelles sair?
Neste governo, não tenho receio. Existe essa questão do destino político do Meirelles, mas acho que ele continua tendo influência no BC e consegue emplacar seu sucessor. Não vejo mudança, até porque interessa ao presidente Lula não haver turbulência no BC. Afinal, se tem uma área que tem funcionado bem no governo Lula, é a do BC.
E no próximo governo?
Acredito que a dinâmica política é para manutenção do tripé que tem dado resultados, não apenas econômicos como políticos: a autonomia do BC, que é o regime de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal.