Título: Reunião no Canadá vai discutir ajuda
Autor: Cólon, Leandro; Dutti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2010, Internacional, p. A10

Encontro em Montreal pode virar disputa de poder na reconstrução

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, terá oportunidade de abordar uma maior atuação da Minustah na reconstrução do Haiti durante a Conferência Preparatória da Ministerial sobre o Haiti, que começa hoje em Montreal. Amorim iria jantar na noite de ontem com a secretária de Estado, Hillary Clinton, e outros chanceleres, na abertura oficial da conferência.

Chanceleres dos países do Grupo dos Amigos do Haiti (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Costa Rica, França, México, Peru, Estados Unidos e Uruguai) vão se reunir com o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, e representantes da ONU, do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Fundo Monetário Internacional e da Organização dos Estados Americanos (OEA). Estarão presentes também países que fizeram grandes doações, como Japão, Espanha e República Dominicana, vizinha do Haiti, além da União Europeia.

O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, confirmou presença - ele tem sido um dos principais críticos da atuação dos EUA no país, acusando o país de monopolizar o aeroporto e se comportar como ocupante.

O encontro será uma preparação para uma conferência maior, com todos os doadores, nos próximos meses. A ideia é desenhar uma estratégia internacional para a reconstrução, discutir a atual situação e coordenar os esforços humanitários, além de assegurar que a ONU tenha o apoio necessário.

Segundo o anfitrião, o chanceler canadense Lawrence Cannon, o encontro vai se concentrar "nos primeiros passos críticos" para a reconstrução do país destruído pelo terremoto.

DISPUTA

A conferência corre o risco de se transformar em uma competição entre os doadores e será um teste de prestígio para as diplomacias do Brasil, dos EUA e da França sobre quem tem o controle das operações. O governo do Canadá quer usar a conferência para elevar sua popularidade. Para os franceses, será a chance de tentar mostrar que o tema não é apenas de interesse de americanos e brasileiros.

Ontem, o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, fez críticas à atuação dos EUA, enquanto Venezuela, Nicarágua e Bolívia se recusaram a participar da conferência em protesto contra Washington. "Em meio à tragédia haitiana, milhares de soldados da Marinha americana e de outras tropas da 82ª Divisão ocuparam o território do Haiti. Nem a ONU nem os EUA ofereceram uma explicação sobre o movimento dessas forças", escreveu Castro.