Título: Fórum Social se alinha ao Planalto
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2010, Nacional, p. A8

Bancada petista do ministério de Lula vai ao evento na Bahia, mas edição gaúcha mantém distância de partidos

Acontecem nesta semana, no Brasil, duas edições regionais do Fórum Social Mundial. A primeira começa hoje em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e prossegue até sexta-feira, mesmo dia em que será aberta a segunda edição, em Salvador, na Bahia. Aparentemente, as programações seguem a mesma linha de crítica ao modelo neoliberal de globalização e se complementam. Mas é só aparência, porque os eventos apresentam diferenças substantivas na sua organização.

Enquanto Porto Alegre procura seguir o padrão original do fórum e tenta manter alguma distância oficial de governos e partidos, Salvador caminha na direção oposta. Ali, a presença de governos, especialmente o brasileiro, e de partidos, leia-se PT, terá um peso que nenhum outro encontro do fórum já realizado no País teve.

O comitê organizador de Salvador, onde predomina a presença de centrais sindicais, tem até anunciado como um avanço o fato de que, nos debates, representantes de governo terão pela primeira vez as mesmas condições que os enviados por organizações da sociedade civil, sindicatos e movimentos populares. "Condições paritárias", diz o material de divulgação.

Quase toda a bancada petista do ministério do presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará das mesas. Entre os nomes confirmados aparecem o de Paulo Vannuchi, de Direitos Humanos; Edson Santos, da Igualdade Racial; Fernando Haddad, da Educação; Carlos Minc, do Meio Ambiente; e Nilcéia Freire, das Mulheres - Samuel Pinheiro Guimarães Neto, de Assuntos Estratégicos, também vai participar. Em algumas mesas haverá representantes do governo estadual, que está nas mãos do PT e é um dos patrocinadores do evento.

Lula vai amanhã a Porto Alegre e no dia 30 desembarca em Salvador. Entre um evento contra o neoliberalismo e outro, passa por Davos, na Suíça, onde será homenageado pelo Fórum Econômico Mundial, que reúne a elite dos pensadores e construtores do modelo neoliberal.

Além de Lula, foram oficialmente convidados quase vinte chefes de Estado. A lista vai de Evo Morales, da Bolívia, a Jacob Zuma, da África do Sul.

ESPAÇO DE DEBATE

Ao ser criado, em 2001, o Fórum Social tinha como proposta criar, à margem de governos e partidos, um espaço internacional de reunião e debates para todos aqueles que têm críticas ao modelo neoliberal. Representantes de governo e de partidos sempre participaram, mas a convite das entidades participantes. Raramente foram convidados diretamente pelo comitê organizador, como em Salvador.

O comitê do evento baiano tem suas justificativas. A primeira delas é que os chamados governos progressistas que estão sendo convidados praticamente não existiam quando o Fórum Social foi criado, em 2001. Com esses novos governos é possível sentar à mesa para debater alternativas ao modelo neoliberal, segundo Kjeld Jakobsen, presidente do Observatório Brasileiro de Mídia e membro do comitê organizador de Salvador.

"As diferenças são enormes", diz ele. "Falo a partir da minha experiência. Fui dirigente sindical no tempo do Fernando Henrique e sei que as possibilidades de diálogo com o governo hoje são maiores do que naquela época."

Ex-diretor da área de relações internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, Jakobsen também afirma que a presença dos governantes nas mesas é importante para o debate do tema em torno do qual deve girar todo o encontro: Enfrentar a Crise com Integração, Desenvolvimento e Soberania. "Esse é um encontro temático", explica. Até agora, nenhum presidente, além de Lula, confirmou oficialmente que virá.