Título: Ministra dá sinal verde para Dirceu ajudar na campanha
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2010, Nacional, p. A6
Ela destaca que, como demais dirigentes e militantes do partido, ex-ministro da Casa Civil será ""bem-vindo""
Depois de recuperarem um assento na direção partidária, petistas envolvidos no escândalo do mensalão ganharam ontem um sinal verde da ministra Dilma Rousseff para que integrem a coordenação de sua campanha. No momento em que dirigentes correm nos bastidores para fechar a equipe que comandará o processo eleitoral, Dilma avisou que seu antecessor no cargo, o ex-ministro José Dirceu, tem lugar garantido, se quiser participar do time que conduzirá a campanha.
"Ele é um dirigente do partido e, como tal, vai ser considerado", afirmou Dilma, após participar de um seminário com delegações estrangeiras no 4º Congresso do PT. Questionada se então Dirceu seria bem-vindo, a ministra emendou: "Sem dúvida. Todos os dirigentes do PT, todos os militantes do PT são bem-vindos, até porque deles eu dependo para me eleger."
Apontado pela Procuradoria-Geral da República como "chefe da quadrilha" do mensalão, Dirceu já havia se antecipado e dito aos jornalistas que quer integrar a campanha - e abertamente. "Fiquei na clandestinidade por dez anos. Meu tempo de clandestinidade já acabou."
Junto com outros envolvidos no mensalão, como os deputados João Paulo Cunha (SP) e José Genoino (SP), Dirceu vai compor o novo Diretório Nacional do PT, que toma posse durante o congresso. Seu nome chegou a ser cotado para a Executiva Nacional, mas ele diz ter recusado o convite.
Nos bastidores, o ex-ministro já iniciou as conversas para avaliar seu papel na campanha de Dilma. Dirigentes reconhecem que a participação é certa. O mais provável, porém, é que não ocupe formalmente um posto, até para que o "estigma" do mensalão não cole na campanha.
MEMÓRIA
Ontem, líderes petistas deixavam claro que o PT entrará na campanha com a convicção de que o mensalão é coisa do passado. O deputado Ricardo Berzoini (SP), que acaba de se despedir da presidência da legenda, engrossou o coro. "Essa questão foi processada pela opinião pública", disse, alegando que "não há nenhum constrangimento" na possibilidade de Dirceu integrar a coordenação da campanha.
O PT caprichou na nostalgia - e na memória seletiva - para decorar o evento. Montou, no saguão do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o "Salão Vermelho", onde contou, em exposições de cartazes, revistas e painéis, a história do partido sob a sua própria ótica. A narrativa retrata o mensalão como uma tentativa de golpe contra o governo, ocorrida a partir de um caso real de corrupção.
"Um senador da oposição deixa claro o objetivo: "Acabar com a raça do PT." Mas a militância petista, os movimentos sociais e os partidos aliados reagem, derrotando o golpismo", diz um dos trechos desse painel.