Título: PT defende gradualismo no combate à inflação
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2010, Nacional, p. A6
Congresso discute documento de Nelson Barbosa, da Fazenda
Cotado para compor o staff econômico de Dilma Rousseff caso ela vença as eleições presidenciais, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, avalia que o gradualismo na política de redução da inflação no governo Lula permitiu que o País acelerasse o crescimento da economia, sem que o Banco Central pesasse a mão na dosagem das taxas de juros. Essa estratégia só foi possível porque a meta de inflação foi mantida no patamar "realista" de 4,5%. Ele defende essa linha de atuação de política econômica em artigo que escreveu para o livro 2003-2010, o Brasil em Transformação, que está sendo lançado pela Fundação Perseu Abramo no 4º Congresso do PT. O congresso se encerra amanhã, quando Dilma será aclamada candidata do partido à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Barbosa, a questão-chave na dosagem das taxas de juros é a definição da velocidade com que a inflação converge para o centro da meta, uma mudança que, em alguns momentos, colocou em lados opostos o Ministério da Fazenda, conduzido por Guido Mantega, e o Banco Central, comandado por Henrique Meirelles. "Se você tentar reduzir a inflação muito rapidamente, você põe a economia estagnada. Se tentar reduzir a inflação muito devagar, tem mais crescimento, mas tem o risco de a inflação não cair. Entre esses dois extremos é que é preciso administrar a política monetária, e foi o que fizemos"", avaliou.
A tese do secretário é que, a despeito das análises de oposicionistas que identificam semelhanças entre a política econômica de Lula e a dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, há muitas diferenças. Barbosa afirma que a atual gestão, de fato, manteve a estrutura iniciada no governo tucano: metas de inflação, câmbio flutuante e metas fiscais. Mas o que diferencia - e o que considera como o ponto que explica as taxas de crescimento econômico bem mais elevadas a partir de 2006 - é a forma como o governo Lula praticou essa política. Ele lembra que desde 2003 o atual governo adota uma postura pragmática de administrar os extremos na condução da política macroeconômica.
POLÍTICA MONETÁRIA
A política de redução dos juros reais nos últimos anos é um dos itens que explicitaria essa diferença. Barbosa disse que nesse sentido foi crucial a manutenção da meta de inflação em 4,5%, em uma batalha vencida pela Fazenda em 2006, e especialmente 2007, contra o BC, que queria reduzi-la para 4%. "A política monetária não é inocente em termos de taxa de crescimento. Em economia, frequentemente nós temos aquela situação de profecias autorrealizáveis", disse Barbosa. Ele exemplifica com o seguinte raciocínio: se o BC tentar uma taxa de inflação muito baixa, ele joga o crescimento da economia para baixo.
Com isso, gera expectativas de que a economia não pode crescer mais. "O investimento se adapta e a economia fica presa no que a gente chama de armadilha de baixo crescimento", definiu.
Na política cambial, segundo ele, também houve uma administração de posições extremadas. Sem abrir mão do regime de câmbio flutuante, o governo atuou comprando dólares, reforçou as reservas internacionais e reduziu a chamada vulnerabilidade externa, que é o risco de faltarem dólares para o País honrar seus compromissos no exterior.
No artigo, Barbosa defende a política fiscal praticada nos últimos anos e garante que a "maior contribuição" foi estabelecer o princípio de que é possível ter equilíbrio fiscal com responsabilidade social. Segundo ele, o equilíbrio nas contas públicas não é incompatível com maior presença do Estado. Ele rebate as críticas sobre o aumento da carga tributária. Para Barbosa, quem ataca esse ponto da política econômica não considera que parte significativa da arrecadação dos últimos anos foi devolvida à sociedade por meio dos programas de distribuição de renda. "Por isso não houve recessão", disse.
FRASES
Nelson Barbosa Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda "A política monetária não é inocente em termos de taxa de crescimento"
"O investimento se adapta e a economia fica presa no que a gente chama de armadilha de baixo crescimento"