Título: Dívida recuará para 40% do PIB, diz BC
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2010, Economia, p. B4

Perspectiva de cumprimento da meta fiscal contribuirá para queda

A desvalorização do dólar ante o real no ano passado fez com que a dívida líquida do setor público como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) se elevasse para 43%, zerando a melhora registrada em 2008. Mas o cenário traçado pelo Banco Central (BC) para o comportamento do endividamento público em 2010 ainda é benigno.

Para Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC, a perspectiva de cumprimento da meta fiscal em 2010, correspondente a 3,3% do PIB, vai contribuir para que a dívida em relação ao PIB recue para 40% no fim do ano.

"Isso demonstra que, do ponto de vista de solvência, não há por que se preocupar", disse Altamir. "A dinâmica de dívida se mostra benigna, evidentemente, com o cumprimento da meta de primário estabelecida", acrescentou.

O comportamento do câmbio é decisivo para a relação entre o tamanho da dívida líquida como proporção do PIB. Isso porque, quando o dólar se desvaloriza frente ao real, os ativos em moeda estrangeira - como as reservas internacionais - perdem valor, elevando a relação entre endividamento e produção de riquezas, que são calculados em reais.

Em 2008, quando o dólar teve uma valorização de 32% frente ao real, reflexo do agravamento da crise no último trimestre daquele ano, a dívida líquida do setor público atingiu o patamar de 37,3% do PIB. "Em 2009, o câmbio atuou em sentido contrário", disse Altamir. "Tivemos uma apreciação cambial expressiva, que chegou a 26%, portanto, o efeito foi contrário", explicou.

Mas o crescimento de 5,7 pontos porcentuais entre 2008 e 2009 também foi influenciado por outros elementos. Segundo Altamir, o déficit nominal mais acentuado e a queda nas receitas contribuíram para essa piora.

A retomada da trajetória cadente da relação dívida/PIB já foi verificada no início de 2010. Segundo Altamir, dados preliminares indicam que o endividamento líquido do setor público deve ter atingido o equivalente a 42% do PIB no fechamento de janeiro.