Título: Venezuela paga com até 1 ano de atraso
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2010, Economia, p. B9
Problema é a liberação de dólares
A intensificação da crise na Venezuela está atingindo diretamente o pagamento dos exportadores brasileiros. Alguns levam mais de um ano para receber. O grande problema está na liberação dos dólares. A Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), que libera os dólares, prioriza itens como alimentos e farmacêuticos. As recentes mudanças na regra do câmbio acabaram dificultando a disponibilidade de divisas.
A Venezuela não produz quase nada além de petróleo. Do Brasil, em 2009, importou R$ 3,6 bilhões, dos quais 66% de produtos manufaturados. O país é o oitavo maior importador de produtos brasileiros, o segundo na América Latina, e tende a elevar sua participação com a entrada no Mercosul.
Darc Costa, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela, diz que não tem recebido reclamações dos exportadores e que é natural a demora. "Quando há controle, isso sempre acontece."
De qualquer forma, ele acredita que as mudanças no câmbio podem, sim, ter "aumentado a morosidade" no pagamento.
A Coface é a maior seguradora de crédito de exportação em atuação no Brasil. Marcele Lemos, diretora técnica da companhia, conta que, desde 2009, aumentou o número de sinistros pagos a grupos que exportam para a Venezuela. "Em alguns casos, a Cadivi vem demorando até um ano para liberar os dólares."
Nesse cenário, um dos setores mais prejudicados é o de eletroeletrônicos. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, diz que muitas empresas do setor só estão vendendo para a Venezuela com pagamento antecipado.
Para garantir a importação, algumas companhias venezuelanas têm recorrido a dólares no mercado paralelo. "O setor está embarcando os produtos com cuidado: prefere vender a clientes conhecidos como bom pagadores e evitar novos créditos a importadores. O país está famoso por não pagar em dia."
Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp, diz que os atrasos no pagamento não são novidade, mas a perspectiva é de que a situação piore. "Estão ocorrendo lá sérios problemas de crédito e liquidez, hoje já existem empresas com dívidas de 6 meses, 1 ano."