Título: Eletrobrás anuncia pagamento de dividendos, 30 anos depois
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2010, Economia, p. B8
Dívida, que soma R$ 10,328 bilhões, será paga em 4 parcelas anuais, a primeira em junho
Depois de mais de 30 anos, o conselho de administração da Eletrobrás finalmente aprovou ontem o pagamento dos dividendos retidos no fim da década de 1970 e início dos anos 1980. O pagamento será feito em quatro parcelas anuais, a primeira com vencimento no dia 30 de junho de 2010.
Nos cálculos da companhia, a dívida com os acionistas soma R$ 10,328 bilhões. Terão direito ao pagamento os detentores de ações ordinárias e preferenciais. Segundo a estatal, o pagamento por dividendo é de R$ 11,36 por ação ON, de R$ 14,44 por PNA e de R$ 0,18 por PNB, a considerar a posição dos acionistas da Eletrobrás no dia 29 de janeiro.
A Eletrobrás reteve dividendos que deveriam ter sido pagos aos donos de ações ordinárias para a realização de investimentos. Cerca de um quinto dos dividendos refere-se à parcela de acionistas minoritários.
De acordo com o estatuto da Eletrobrás, esses créditos serão remunerados pela variação da taxa Selic até a data do pagamento. Para o pagamento, a companhia vai utilizar caixa próprio, hoje na casa dos R$ 16 bilhões.
"Temos fluxo de caixa e acreditamos que para as próximas parcelas isso também deverá ocorrer", disse o presidente da estatal, José Antonio Muniz, completando que a retirada da primeira parcela, de R$ 2,5 bilhões, não deverá prejudicar os investimentos de R$ 9 bilhões previstos para também saírem do caixa da estatal este ano.
Mesmo assim, a companhia quer captar ainda no primeiro trimestre US$ 2 bilhões no mercado internacional para fazer hedge de suas operações com a Usina de Itaipu, que são em dólar. Se ocorrer, a captação vai superar o recorde de US$ 1 bilhão batido pela estatal no ano passado em uma operação semelhante.
De acordo com Muniz, a empresa aguarda apenas a autorização do Tesouro para efetivar a operação. Também não está descartada, segundo ele, uma segunda captação no mesmo valor até o fim do ano para financiar novos projetos, entre eles a Hidrelétrica de Belo Monte.
Ele afirmou ainda que a ideia inicial de fazer uma capitalização da empresa para quitar a dívida integralmente "não se mostrou adequada" e por isso foi descartada, sendo substituída por esse pagamento em parcelas anuais.
Já no primeiro ano, o custo financeiro da dívida, que era de R$ 1,5 bilhão anual, deverá cair pelo menos 12,5% no balanço, em razão do pagamento da primeira parcela. O porcentual pode aumentar, caso o pagamento seja antecipado. "Não descartamos a antecipação do pagamento", disse Muniz.
O mercado reagiu bem à operação anunciada pela Eletrobrás. Depois de atingir picos de 14% de alta em dia de baixa do Ibovespa, os papéis ON da companhia fecharam com alta de 9,9%. Para os analistas, o anúncio da operação dá o fôlego que a companhia precisa para promover sua reestruturação.
"Há espaço para crescer muito mais. E não só os ativos diretos da Eletrobrás sentirão esse impacto, mas as coligadas também", avaliou Ricardo Correa, da Ativa Corretora, lembrando que desde dezembro os papéis da empresa se valorizaram em torno de 30% por causa das perspectivas do pagamento dos dividendos.
Para Rosângela Ribeiro, da SLW Corretora, o viés é de alta, mas ela acredita que haverá menos pressão sobre os papéis nos próximos dias, em virtude do anúncio do pagamento dos dividendos. "Havia a perspectiva de que isso estava por acontecer e isso puxou a alta. Agora, vamos esperar. Deverá haver uma realização de lucro até que se tenha mais novidades que fortaleçam a empresa", disse.